1984: Distopia ou manual de ditadura?

No livro 1984, George Orwell descreve um futuro distópico que parece cada vez mais próximo da realidade. Ele antecipou o futuro ou criou um manual de ação para governos ditatoriais?

George Orwell, em 1984, traz a Terra dividida em três facções, a Oceania, que compreende todo continente americano, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e o Sul da África. A Eurásia, composta pela Europa, parte do Oriente Médio e a Rússia. E por fim a Lestásia, que compreende a China, Japão, norte da Índia e Irã. Talvez isso soasse mais estranho em 1949, data da publicação do livro, do que nos dias de hoje, não é mesmo?

O Governo da Oceania era ditado por um partido socialista, não exatamente como Marx havia proposto, mas como uma evolução deste, sendo chamado de Socing, ou Socialismo Inglês. O Governo era liderado pelo Grande Irmão, que nada mais era que um rosto criado, um fantoche para ser amado pelas massas, sem que este precisasse ser substituído, uma vez que nunca tinha existido de fato e assim jamais morreria. O que seria o atual governo de Joe Biden, se não um fantoche? Ou vai me dizer que você confiaria todas suas economias à senilidade deste governante? Biden, em uma sociedade de leis privadas, ou seja, no ancapistão, estaria em casa, sendo cuidado pela família ou internado em um lar que cuida de pessoas idosas, e não governando mais de 300 milhões de americanos. Jamais teria qualquer chance de se tornar síndico ou representante de qualquer tipo de associação, que não seja de pessoas com demência, Alzheimer ou coisa que o valha.

A sociedade apresentada por Orwell é dividida em três castas, sendo a base da pirâmide composta pelos proletários, seguidos dos membros externos do partido e todos sendo liderados pelos membros internos do partido. Os proletas, como chamados no livro, eram responsáveis pelo trabalho físico, não tinham acesso à educação, eram como burros de carga, que lhes é dado alimento e moradia em troca de trabalhos pesados. Assim, eles não precisavam seguir todas as regras impostas para a casta superior à deles, pois não tinham condições, por falta de educação, de perceber a realidade que estavam inseridos. Eram tão livres quanto os leões, que vivem presos em grandes pedaços de terra, em safáris no continente africano. Suas preocupações eram quase que instintivas, pois viviam em um estado de escassez constante. Será que estes, quando ainda podiam votar, não haviam trocado o voto por uma caixa d'água ou quem sabe algumas cervejinhas e picanhas?

O segundo grupo, que fazia parte do partido, e que devido a suas atribuições necessitavam de alguma escolaridade, já gozavam de algumas regalias. Ter uma moradia dada e escolhida pelo Grande Irmão, ou seja, pela classe dominante. Ter empregos em repartições públicas. Porém, sofriam com a escassez de produtos, assim como os proletários, mas tinham acesso a péssimos produtos, e não apenas as sobras destes, como os proletas. O trabalho desses membros do partido, seria como os funcionários públicos de hoje em dia, eram encarregados de fazer a engrenagem do Governo funcionar. Com isso, o controle e as regras eram muito mais rígidas que a da base da pirâmide. Sendo vigiados vinte e quatro horas por dia, através de Teletelas, ou seja, um aparelho de televisão que tanto exibia a propaganda do partido e seus programas, enquanto gravava vídeo e voz dos ambientes em que eram instalados.

Todos os ambientes frequentados pelas duas castas superiores eram vigiados, até mesmo o interior de suas casas. Dessa forma, os que desrespeitavam alguma das regras eram punidos, seja por meio de prisão e tortura, para realinhar suas atitudes, com o que prega o partido, ou até mesmo a morte e a exclusão de sua existência histórica na sociedade. Seria esse o prenúncio da tecnologia de reconhecimento facial que é utilizado na China, nos dias de hoje? Seria o que ocorre em alguma dita república, que prende e persegue inimigos políticos, por suas opiniões, palavras ou votos, como ocorre com o Monark, que teve toda sua trajetória profissional apagada de uma plataforma de vídeos?

O terceiro grupo era formado pelos que realmente controlavam o Estado, gozavam de muitas regalias, tendo acesso aos produtos de qualidade, possuindo casas maiores e mais bem mobiliadas, além de funcionários para servi-los. Mas ainda assim, eram todos vigiados por seus pares. Eles eram julgados da mesma forma que os da classe inferior, ou seja, estavam sujeitos a responder pelos crimes que cometessem. Não seriam eles os políticos e membros das mais altas cortes, de boa parte dos países que ainda chamamos de democracias? Ou até mesmo a oligarquia ou o grupo que rege os governos de países ditatoriais, como Venezuela, Cuba, Rússia ou o próprio Brasil?

Uma das frases contidas em 1984, diz muito do que vemos hoje: "Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado". Podemos lembrar quando passamos meses ouvindo o mantra da mídia, "Fique em casa, a economia a gente vê depois". Para que após alguns meses, em rede nacional, uma apresentadora de televisão que havia passado meses repetindo o mesmo mantra, "fique em casa, fique em casa, fique em casa", falar que sempre disse "Fique em casa, se puder”. Os historiadores das próximas décadas, ou até séculos, irão colocar em seus estudos o real "fique em casa" ou o "fique em casa, se puder"? Afinal, quem hoje controla o presente? Um careca que nunca recebeu sequer um voto, ou o povo, que deveria ser representado por aqueles que elegeram?

No livro somos apresentados a um tipo de governo ditatorial socialista, mas e os outros governos? O Governo da Eurásia e da Lestásia? O autor não entra a fundo na estrutura destes, mas deixa nas entrelinhas que se tratava do mesmo tipo de governo, também socialista e totalitário, mas com diferenças regionais. Estavam em guerra constante desde a divisão dos três Estados. A guerra possivelmente nem existia mais, se é que um dia tenha existido, talvez era apenas utilizada para controle da sociedade, como prova de que era necessário um grande líder à frente da nação para unir o país e vencer o inimigo. Não foi algo parecido com o que ocorreu com os Estados Unidos na invasão de países do oriente médio? Na guerra contra o terror? Não seria essa uma das razões da invasão russa à Ucrânia? Contra o imperialismo americano ou a “desbigodização”? Ou ainda, num futuro próximo à invasão chinesa de Taiwan? Talvez sob a desculpa de ser um aliado dos americanos?

As teorias da conspiração correm soltas. Em um mundo onde um corrupto sai da cadeia e assume a presidência do país, que até outro dia roubava, sem dó nem piedade. Torna a realidade, muito mais fantástica e inacreditável do que as teorias da conspiração. Assim, começa a ficar complicado separar o que é real e o que é fantasia. No livro, a solução para esse dilema vem através do Ministério da Verdade, que vai decidir o que é fake news e o que é… Quer dizer, esse ministério é responsável por alterar as notícias do passado, para se adequar as previsões do partido. “Fique em casa, se puder".

As respostas das perguntas feitas aqui, podem gerar em muitos um frio na espinha. Mas a grande questão é, como lutar contra isso? A resposta já foi dada por grandes economistas e filósofos de séculos passados: o libertarianismo, e a pulverização dos grandes estados em grupos menores formados por contratos privados. Um dos princípios inerentes a qualquer ditadura é o controle centralizado da força, da educação e de um amplo território - exatamente o que temos hoje. Sendo sua antítese a descentralização e o controle regional destes fatores. Ora, a base que a grande maioria dos libertários defende é justamente a descentralização, além é óbvio do princípio da não agressão.

Os Estados Unidos, apesar de todos seus defeitos, através dos Pais Fundadores, demonstraram ao mundo em 1787 o caminho para uma nação mais livre, através de sua Constituição Federal. O modelo de sucesso, foi um dos fatores para tornar o país na potência que é hoje. Também sendo considerado por muito tempo um dos países mais livres do mundo e o mais próspero. E qual é esse modelo de sucesso? É a descentralização do poder, que transforma um país de tamanho continental em cinquenta países menores, mais o distrito federal. Além disso, a constituição deles tem por objetivo criar barreiras para o próprio governo, dizendo aos governantes o que eles não podem fazer e protegendo direitos individuais. É uma forma de impedir que o Estado produza leis que firam os direitos naturais de seus habitantes.


O modelo deve ser ampliado, ou evoluído, com mais descentralização, com menos atuação do Estado. Uma sociedade justa deve ter como base apenas a defesa do direito natural proposto por Bastiat, em seu livro "A Lei". Segundo ele, essa lei "é a organização coletiva do Direito individual de legítima defesa." Não seria essa uma definição do princípio da não agressão? Se o estado garante a legítima defesa da vida e da propriedade de alguém, não estaria automaticamente vetando a possibilidade de agressão a pessoas pacíficas? Mas, afinal, o estado não agride todas as pessoas sob seu jugo?

Talvez ainda haja uma identificação das pessoas com seu país de origem, e mesmo tendo diversas diferenças sociais e culturais espalhadas pelo Brasil, não há um denominador comum que une baianos, paulistas e acreanos? Existindo tal união, e sabendo-se que não é bom centralizar tais estados sob um mesmo governo poderoso, em um planejamento central, como já ficou provado pelos estudos do anarcocapitalista Murray Rothbard. A resposta não seria algo parecido com o que há nos Estados Unidos, ou seja, estados que funcionam de forma mais soberana e cidades que funcionam como os estados que conhecemos hoje?

Mesmo em um país ainda centralizado, como os Estado Unidos, fica mais evidente os erros e acertos de cada unidade estadual, pois partilham de uma cultura, ancestralidade, moeda, economia e territorialidade em comum, facilitando a comparação entre eles. Assim, é possível ver, hoje, que as políticas praticadas na Califórnia estão destruindo a vida de seus habitantes, e, em contrapartida, o que é praticado na Flórida, tem melhorado de forma geral a vida de seus cidadãos. Dessa forma, é possível notar uma grande migração de pessoas da Califórnia para a Flórida, mas não ocorre o mesmo no sentido inverso. O que também é evidenciado pela migração de cubanos, que dentro de barcos improvisados fogem do sistema de Cuba, arriscando a própria vida para se salvar da tirania que os escraviza. Mas você não vê ninguém fazendo o caminho contrário, sejam americanos, brasileiros ou até mesmo haitianos, indo para Cuba aproveitar tudo que o sistema tem para eles - que é apenas escassez, censura e violência.

1984 é um livro escrito como um retrato de uma sociedade distópica, talvez com o intuito de alertar as gerações futuras de algo que, já naquela época, estava encaminhando a sociedade para essa distopia. Choca ver a quantidade crescente de similaridades, com a realidade atual, que existe na história elaborada por Orwell. O que gera uma pergunta, talvez sem resposta, que seria: os governantes, ao invés de temer essa distopia e trabalhar para que ela não ocorra, teriam utilizado tais escritos como uma receita de bolo, praticando os conceitos ali expostos, para embasar suas decisões e leis, transformando um futuro distópico em realidade plena?

No fim, a resposta para essa pergunta talvez não seja tão importante. Pois na bem da verdade, o que realmente importa é o que você vai fazer a respeito disso. Se hoje ainda contamos com uma internet, de certa forma descentralizada, e que te permite assistir ou ler um artigo como este, isso só pode significar que ainda há tempo de reverter este processo. A única alternativa que temos é justamente o antagonismo da centralização de poder, sendo assim a descentralização, ou seja, o Libertarianismo. O dia que perdemos a internet como a conhecemos, será também o dia que perderemos totalmente nossa liberdade. É hora de união, é hora de lutar. Ou nos juntamos aos que, assim como nós, buscam a liberdade e a descentralização do Estado, ou ficaremos reféns do Grande Irmão e suas políticas.

Referências:

Livro, 1984 - George Orwell
Livro, A Lei - Frédéric Bastiat
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n405de6lno