'CALÇADA DA FAMA' do JUDICIÁRIO flopa e deixa juristas tristes

Uma 'Calçada da Fama' nos tribunais? Por que a justiça e seus representantes querem ser tratados como famosos?

O presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, desembargador Ricardo de Oliveira Paes Barreto, soltou a mais nova e curiosa notícia: ele criará uma “Calçada da Fama” do Poder Judiciário. A ideia é registrar as mãos de todos os presidentes do Tribunal ainda vivos. É como aquelas calçadas famosas de Hollywood e do Maracanã, só que do Judiciário. Para até mesmo uma brincadeira de mal gosto, né?

Não contentes com a Festa de aniversário de 94 anos de Sarney que reúne todas as autoridades do primeiro escalão movendo as articulações políticas à custa do dinheiro do povo, agora, os pernambucanos vão pagar para homenagear os magistrados do estado. O presidente do TJ falou sobre melhorias no jardim e na iluminação do prédio do tribunal. A ideia deles é deixar o lugar como sendo o mais bonito de Recife e até de Pernambuco. Não só para o tribunal ficar mais atrativo, mas para melhorar o clima de quem trabalha lá e de quem visita. Isso, enquanto o referido estado é o segundo maior em matéria de assassinatos per capita. Eles usufruem do dinheiro para simpatizar com a imagem deles, como se fosse convencer alguém. Acredito que nenhum dos nossos telespectadores gostaria de estender este tapete vermelho para os políticos e magnatas.

Mas não se preocupem. Eles desistiram da ideia após dois dias. Provavelmente pela repercussão do assunto. O presidente do TJ Ricardo Paes Barreto disse: “Após refletir sobre a sugestão, o presidente a descartou por não achar viável, nem apropriada. Considerou também que os nomes e fotografias dos ex-presidentes já constam em galeria interna no Palácio da Justiça”. Essa iniciativa de criar uma Calçada da Fama do Poder Judiciário, pode ser vista como uma forma de os políticos buscarem reconhecimento e prestígio para si, em vez de focar na eficiência e na imparcialidade da justiça que dizem defender.

Afinal, você realmente acha que se não fosse pela má repercussão, eles não fariam a calçada? No comunismo, líderes políticos frequentemente promoviam sua imagem e importância via monumentos e homenagens, o que pode ser visto como uma tentativa de centralizar o poder e controlar a população. São os criadores do campeonato, os criadores das regras e também os “auto premiados” com o troféu. Não é só a partir da coerção usando as leis do estado que querem dominar o povo. Querem que todos vejam o quanto eles são poderosos, sinalizando as falsas virtudes e transmitindo superioridade com isso. Além disso, objetivam com estes monumentos ficarem na lembrança da sociedade, acreditando que formarão o imaginário das pessoas como alguém digno de respeito, mesmo que a sociedade nem saiba quem eles são.

Isso levanta a questão da autonomia e descentralização do poder. Em uma sociedade mais livre, o foco seria em garantir que a justiça seja rápida e imparcial, não em homenagens e símbolos de posição, muito menos calçada de corruptos. É uma boa valorizar a estética e o conforto do prédio, desde que não atrapalhe a eficiência da justiça, coisa que o estado não consegue. Por isso é bom ficar de olho para não gastar dinheiro à toa e não favorecer empresa amiga em contrato, né? Na sociedade libertária, os contratos devem ser assinados e cumpridos, garantindo o favorecimento de todos os envolvidos. Não faz sentido desviar dinheiro do nosso contrato para favorecer um lado, ou você não fará mais contratos comigo. Preciso de clientes para continuar vivendo do meu ofício e por isso devo honrar todos os contratos, sejam eles assinados, sejam verbais.

Não sinalizarei virtude pelo que não fiz. A marca da minha empresa ganha força com os contratos honrados. Focar em homenagens e símbolos de superioridade, é desviar totalmente da atenção do objetivo principal do Judiciário, o qual é a aplicação justa da lei e a defesa dos direitos individuais. Pelo menos, é o que dizem. Isso pode resultar em um desperdício de recursos públicos e até mesmo em favorecimento de empresas ligadas aos políticos e magnatas no processo de melhoria das instalações do Tribunal. Imagine a seguinte situação: você contrata uma empresa que visa manter a justiça na sociedade; ela faz seu serviço abaixo da mediocridade, sendo conhecida por oferecer favores uns e ser rígida com outros; neste ínterim, fica sabendo que ela gastará rios de dinheiro para criar um monumento das pessoas que exercem essa justiça. Pergunto: você continuará pagando por este serviço, caso houvesse outras empresas no ramo? O estado não consegue autonomia por razões existenciais. Ele depende do povo. E o povo não pode cancelar o contrato, até porque não existe nenhum papel assinado pelo povo de que eles querem este serviço. Eles são obrigados, e ponto. Isso significa que o governo é influenciado por interesses externos e os políticos precisam vender a própria imagem. É importante que o Judiciário seja independente para o sistema funcionar corretamente. Se rolar qualquer tipo de influência de fora, como do governo ou de interesses particulares, atrapalha essa independência, deixando de lado suas obrigações. A corrupção através da influência corrói a base de qualquer produto ou serviço, portanto, se ela estiver presente, tudo pode desmoronar!


A Calçada da Fama é justamente uma forma de fazer com que os magnatas sejam lembrados ou mesmo conhecidos. Como eles não querem ficar conhecidos como corruptos, como o José Dirceu, ou ainda como pessoas da esbórnia, como o filho de José, Zeca Dirceu, escolheram outra forma de dar visibilidade a seu parco trabalho. A calçada da fama é só mais um exemplo de que eles buscam propagar uma imagem de celebridade. Mesmo com todo problema de autoritarismo, eles querem passar a imagem de sucesso. A ideia ficou conhecida quando foi ao ar uma entrevista do desembargador, no programa João Alberto Na Jornal. Foi dito: “A gente só via em Hollywood e no Maracanã. Ficará uma coisa muito bonita, uma atração para os turistas, juristas, para todos que visitam nossa cidade”. Depois que a situação ganhou destaque, eles decidiram reconsiderar. Mas é importante ficarmos atentos, porque a intenção deles continua clara.

Na história, vários ditadores já usaram estratégias parecidas para criar uma imagem de poder e ganhar apoio do povo, tudo às custas do dinheiro público. Um exemplo é o do Bigodinho, durante a Alemanha da Segunda Guerra Mundial. Ele investiu pesado em eventos e propagandas gigantescas, como aquelas marchas e os desfiles da Juventude Bigodista, tudo para passar a ideia de que o regime era superior. Outro caso é o do Joseph Stalin, lá da União Soviética. Ele fez de tudo para parecer o líder mais poderoso e imbatível, com estátuas enormes, retratos gigantescos, mudança de nome das cidades mais importantes. Inclusive, até mudou o calendário para incluir datas comemorativas da própria vida. Tudo isso, claro, custando uma grana preta aos cofres públicos.

Mais recentemente, temos o exemplo do Kim Jong-un, lá da Coreia do Norte. Ele gasta uma fortuna em eventos e construções gigantes, como desfiles militares e estádios enormes, só para mostrar para o mundo que é poderoso. Só que enquanto ele faz isso, boa parte do pessoal do país vive na miséria. Esses são só alguns exemplos de como os ditadores torram o dinheiro do povo para parecerem poderosos. E o pior é que, sempre, quem se lasca é a população, que acaba sofrendo com a falta de dinheiro no fim do mês.

Mas isso significa que no ancapistão não teríamos monumentos de prestígio? Claro que não. Inclusive, você poderia montar um monumento no meio da cidade, caso pagasse por ele, e o dono daquele local aceitasse o referido objeto. O ponto econômico de inflexão neste caso, é que o dinheiro gasto é seu, e não da população. Agora, existe outra questão que está mais ligada a ética. Bordie dizia: Os circuitos de consagração social serão tão mais eficazes quanto maior a distância social do objeto consagrado. Em bom português: quanto mais desconhecido for a pessoa na qual falar bem do seu serviço ou produto, maior será o respeito e glorificação que o terceiro terá por você. E a recíproca também é verdadeira, ou seja, se você fizer um monumento seu, a representação de respeito e glorificação é próximo ou igual a zero. Portanto, a máxima que sua mãe sempre falava para "não falar bem de si", é correta.

No fim, a calçada da fama do judiciário nada mais é que uma representação do exacerbado ego daqueles que querem que ser bajulados, mas que não são nem conhecidos, muito menos adorados. É o medo de morrer e não ser lembrado por nada, a não ser de que utilizou dinheiro roubado dos pagadores de impostos para fazer um serviço cocho. É a necessidade de aplausos, que não vêm, e que fazem o palhaço chorar no meio do picadeiro.

Referências:

1: https://www.migalhas.com.br/quentes/406004/presidente-do-tj-pe-anuncia-criacao-de-calcada-da-fama-na-corte
2: https://g1.globo.com/politica/blog/gerson-camarotti/post/2024/04/25/festa-de-aniversario-de-94-anos-de-sarney-reune-autoridades-do-primeiro-escalao-e-tem-articulacoes-politicas-ao-pe-do-ouvido.ghtml

https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2024/03/12/monitor-da-violencia-2023-pernambuco.ghtml

https://blogdojuares.com.br/colunista/32,0,863/os-circuitos-de-consagracao-social-serao-tanto-mais-eficazes-quanto-maior-a-distancia-social-do-objeto-consagrado.html#:~:text=Assim%20se%20formula%20a%20frase,do%20que%20o%20pr%C3%B3prio%20elogio.