O resultado das eleições de 2024 foi surpreendente para a direita brasileira, mas também para a defesa das ideias da liberdade.
Agora que o primeiro turno das eleições municipais já foi bem digerido, e posto que a esmagadora maioria dos municípios brasileiros já definiram seus resultados, podemos fazer uma análise mais apurada do cenário político de 2024. E, de forma geral, não podemos dizer que esse cenário não é surpreendente. Muito pelo contrário: nem mesmo o mais otimista dos analistas de direita poderia conceber uma queda tão brutal da esquerda brasileira, como um todo, em matéria de resultados efetivos.
Alguns números vão nos ajudar a entender a dimensão desse fenômeno. Para começar a brincadeira: você sabe qual foi o partido que menos elegeu prefeitos no Brasil - levando-se em conta, é claro, partidos de relevância, que possuem representação no Congresso Nacional? Pois bem, trata-se do PSOL. Sim: o famoso PSOL, que vive ocupando os noticiários da mídia esquerdista brasileira, conseguiu eleger, até o momento, o pífio número de ZERO prefeitos. É claro que o Guilherme Boulos ainda pode ser eleito em São Paulo - algo que representaria, sim, uma vitória com V maiúsculo para o partido. Ainda assim, estamos falando de uma sigla que saiu de poucas 5 prefeituras, em 2020, para nada, em 2024.
E se a pergunta for mudada, agora levando em consideração não o número de prefeitos, mas sim o de vereadores? Bem, a pergunta terá mudado, mas a resposta será a mesma: o PSOL foi o partido que menos elegeu vereadores no Brasil. Ao todo, foram apenas 80 cadeiras nos legislativos municipais - 13 a menos do que em 2020. Lembrando que estamos falando de um país com mais de 5.500 municípios! É difícil não afirmar que um resultado de tal magnitude - ou melhor, de tal pequenez - não é um completo fracasso.
Mas isso não se restringe, apenas, ao partido que, de forma paradoxal, tenta conciliar “socialismo” com “liberdade”. A esquerda como um todo, no Brasil, desabou por completo, nestas eleições. É certo que o PT, sim, conseguiu mais prefeituras, neste ano, do que em 2020 - um aumento de 66 cidades, até o presente momento. Contudo, embora o partido dispute algumas capitais no segundo turno, a verdade é que as vitórias petistas se concentraram, basicamente, em três estados brasileiros, e em cidades pequenas.
Apenas para você ter uma noção desse fracasso: em São Paulo, o PT fez apenas 3 prefeituras. Em uma delas, o candidato petista só venceu porque disputou a eleição sozinho. No Sudeste, foram apenas 41 prefeituras - de um total de quase 1.700 municípios. O PT, o partido do presidente da República, que dispõe de verbas monumentais e de cabos eleitorais de alto calibre, no governo, conseguiu a proeza de fazer menos prefeitos que o PSDB - um partido que está definhando há vários anos.
Agora, saindo do mundinho do PT do Lula e de sua gente, e analisando a esquerda como um todo, pode-se afirmar, sem dúvidas, que esse espectro político minguou de forma assustadora em 2024. Em números gerais, os partidos de esquerda elegeram 742 prefeitos. Ou seja, foram 110 prefeitos a menos que em 2020 - embora esse cenário ainda possa melhorar um pouco, a depender dos resultados do segundo turno das eleições. Sim: o espectro político que está no poder no Brasil, comandando o executivo e tendo influência direta na instância máxima do aparelhado judiciário tupiniquim, não consegue eleger quase ninguém. A esquerda política, felizmente para nós, parece apenas um elefante com pés de barro: aparentemente poderosa, mas sem sustentação real.
Por outro lado, a direita brasileira cresceu absurdamente, enquanto força política local. O PL do Bolsonaro conseguiu novas 168 prefeituras e 1.500 cadeiras de vereador a mais, na comparação com 2020. Também o Partido Novo teve resultados notáveis: o partido laranja saltou de 1 prefeito em 2020, para 18 em 2024; já o número de vereadores cresceu 9 vezes de uma eleição para a outra. De forma geral, os partidos tipicamente classificados como de direita conseguiram 2.600 prefeituras. Sim, mais do que o triplo do que a esquerda; e mais do que o Centrão também.
Acredite ou não, o próprio Rui Costa Pimenta, o chefão do PCO, deixou isso claro, em uma recente análise a respeito das eleições. Eu sei, imagino que você, assim como eu, não aguenta mais concordar com o PCO - faz parte da vida. Acontece que o Sr. Rui Costa, ainda que seja um sujeito de extrema-esquerda, é capaz de aceitar algumas realidades que os demais esquerdistas brasileiros - chamados por ele de “pequena burguesia” - não conseguem compreender.
O chefão do PCO, por exemplo, afirmou que a esquerda brasileira desapareceu por completo nestas eleições. Fazendo uma análise pelo número de votos, e não pelo total de prefeituras conseguidas, Rui Costa chegou à conclusão de que o PL do Bolsonaro, sozinho, superou a esquerda inteira. Ou, em suas próprias palavras: Bolsonaro limpou o chão com a cara da esquerda brasileira. No fim dessa história, o “inelegível” acabou se tornando o maior eleitor do Brasil.
Mas, afinal de contas, o que tudo isso importa para nós, libertários? Bem, é certo que, sob nosso ponto de vista, o estado é um ente ilegítimo, políticos são parasitas e imposto é roubo. Não há o que se discutir a esse respeito: essas afirmações são evidentes, quando se leva em conta os princípios éticos do libertarianismo. Contudo, isso não significa que, como forma de proteger nossa vida, nossa propriedade e nossa liberdade, não possamos agir de forma estratégica para evitar o avanço do estado sobre nossos direitos. E, principalmente, que não devemos comemorar quando temos alguma vitória, nesse sentido.
A direita brasileira, embora esteja repleta de aproveitadores, traidores e pessoas de moral duvidosa, também possui nomes que compartilham de muitos - e, em alguns casos, de todos - os nossos princípios. De forma geral, bem ou mal, vemos coisas como redução de impostos, liberação de armas de fogo e combate à impositiva agenda progressista estatal serem defendidas.
Também vemos a defesa de pautas relacionadas à propriedade privada, especialmente no que se refere ao meio rural - frequentemente ameaçado por braços armados da política esquerdista. E, por sinal, a pauta de segurança pública é algo bastante evidente: a esquerda, como se percebe, quer aliviar a barra de seus aliados no mundo do crime. O uso da política para impedir essa catástrofe não parece, no fim das contas, ser algo tão ruim assim.
É certo que prefeitos e vereadores não podem fazer tantas mudanças assim em seus municípios - até porque o Brasil é uma “federação de araque”, na qual Brasília determina praticamente tudo o que pode ser decidido. Ainda assim, existem pontos interessantes locais que podem ser melhorados com a adoção de políticas menos socialistas. Afinal de contas, qual de nós que nunca sofreu, pelo menos um pouco, por causa de políticas estúpidas levadas adiante por prefeitos e vereadores?
Existe, contudo, ainda outro ponto notável, no que se refere aos resultados destas últimas eleições. O que percebemos é, de forma geral, um enfraquecimento do establishment - aquele estado profundo que, no frigir dos ovos, é quem dá as cartas na estrutura estatal. Grandes partidos históricos brasileiros já perderam o ímpeto do passado. O MDB está longe de ter seus tradicionais mil prefeitos; e o PSDB é, hoje, uma sombra do que foi nos tempos dos governos FHC. Ocupando esse espaço, surgem novas forças políticas, nascidas da repulsa que o povo brasileiro nutre pela velha politicagem - aquela fisiológica.
Embora as eleições deste ano se restrinjam aos municípios, elas nos dão boas pistas do que deve acontecer nos próximos anos - e foi assim que a esquerda, de forma geral, compreendeu os resultados. O citado Rui Costa Pimenta, inclusive, afirmou que o cenário de 2024 é uma antecipação das eleições de 2026. Se isso se repetir - bem, veremos a ampliação dos fenômenos que já foram referidos, só que a nível nacional. Vai ser, no mínimo, interessante de se ver.
Não podemos deixar de citar, é claro, a força da informação descentralizada e distribuída nessa história. Foi exatamente a informação barata e de rápida circulação que permitiu a ascensão meteórica de nomes que, antes, não teriam qualquer tipo de apelo político, mas que se tornaram, de forma indiscutível, grandes protagonistas no último pleito. Um exemplo claro disso é o próprio Pablo Marçal - o nome mais falado destas eleições. Usando, basicamente, as redes sociais para se promover, o ex-coach conseguiu derrotar o poder da TV aberta - representado pelo Datena - e ficou a poucos votos de derrotar o fundão eleitoral - representado pelos R$ 60 milhões da campanha de Guilherme Boulos. Ah, e você tava achando que a esquerda é contra os milionários? Só se for aqueles que não abaixam a cabeça para eles!
De qualquer forma, é sempre importante lembrar que, embora o voto tenha sim sua função estratégica e seja, no curto prazo, uma alternativa razoável, a política não é a solução para os nossos problemas. A coisa é simples de entender: o estado não é a solução, ele é a causa do nosso mal. Ou seja: o fortalecimento da direita nas eleições deste ano, embora seja algo impressionante, é apenas um paliativo - um “ganha tempo”. No longo prazo, a ética libertária permanece sendo a verdadeira solução e as tecnologias descentralizadas e disruptivas, como o Bitcoin, e as redes sociais, são nossas armas para lutar por um mundo mais livre e justo.
Quem se esquecer disso estará fadado à frustração e à decepção. E não devido aos traidores - que certamente se revelarão em breve, como aconteceu em 2018, 2020 e 2022. Para isso, todos já estão preparados. A grande decepção reside na percepção, por parte de alguns incautos, de que o estado sempre irá crescer, avançando sobre nossa liberdade e sobre nosso patrimônio. O máximo que podemos fazer, por ora, é atrasar essa inevitável tendência. E, principalmente, adotar estratégias agoristas para entender, de uma vez por todas, que o sistema não será resolvido por dentro. Nós é que devemos sair do sistema e criar nossa própria liberdade longe das garras do leviatã estatal.
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