Parece que o Velho Continente está se tornando, cada vez mais, um continente velho.
Aquilo que todo mundo meio que já esperava, finalmente vai acontecer, na Europa: o número de pessoas velhas vai ultrapassar o número de jovens. Na verdade, talvez isso já tenha até acontecido. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, o número de idosos vai superar o número de adolescentes na Europa ainda em 2024. De forma específica, o número de indivíduos com mais de 65 anos será maior que o número de jovens com menos de 15. É a primeira vez na série histórica que esse fenômeno acontece. Infelizmente, tudo indica que não vai ser a última.
Atualmente, mais de 20% da população da União Europeia tem mais de 65 anos - ou seja, são idosos. Acontece que, de acordo com diversas estimativas, esse número ultrapassará os 30% em 2050. Segundo a avaliação de economistas, nesse ano, haverá 2 europeus trabalhando para cada europeu aposentado. Hoje, essa proporção é de 3 para 1. Em resumo, o cenário de desequilíbrio demográfico na Europa vai piorar bastante nos próximos anos.
É desnecessário dizer o quanto essa situação vai impactar negativamente na questão previdenciária europeia. Pois é: a falência da previdência estatal não é um problema exclusivamente brasileiro. As nações do Velho Continente estão às voltas com isso também. Só que, ao que tudo indica, esse é um problema para o qual ninguém tem solução. E muitos países europeus já estão enfrentando sérias dificuldades, nesse ponto.
Das 27 nações que compõem a União Europeia, 17 já gastam mais de 10% do seu PIB com aposentadorias públicas. Pare pra pensar nisso: um décimo de tudo o que é produzido nesse bloco econômico, é usado para sustentar uma parcela da população que, por definição, não é mais produtiva. Pra piorar a história, é importante levar em consideração que, em países como Grécia e Itália - dois dos mais inconsequentes do bloco econômico, - esse valor já supera os 16%.
Esse desequilíbrio, por sua vez, leva os países europeus a um óbvio dilema: a necessidade de reformar a previdência social. E, de fato, algumas nações já começaram a encarar esse desafio que, além de politicamente indesejável, costuma apenas empurrar os problemas com a barriga, ao invés de resolvê-los.
Na França, por exemplo, começou a ser feita a migração da idade de aposentadoria, dos atuais 62 para 64 anos. No Reino Unido, por sua vez, espera-se que a idade de aposentadoria atinja os 68 anos em 2040. Também a diferença na idade de aposentadoria entre mulheres e homens britânicos - que chega a 7 anos por lá, - vai desaparecer, nesse intervalo de tempo. Já na Dinamarca, espera-se que reformas futuras obriguem os jovens de hoje a trabalhar até os 74 anos.
Ainda assim, diversos economistas avaliam que reformas adotadas em países como Bélgica e Alemanha não estão surtindo o efeito necessário. Como anteriormente referido, nesses casos muito auê político é feito, mas sem que o problema, de fato, seja mitigado. Obviamente, o Brasil também não está imune a esse problema - muito pelo contrário. Nós, inclusive, já falamos sobre o caso brasileiro no vídeo: "VOCÊ vai SE APOSENTAR aos 78 ANOS: estudo prevê o COLAPSO DO INSS em POUCO TEMPO" - link na descrição.
Muita gente tem colocado a solução para a crise demográfica europeia na conta da imigração, mas há vários problemas contidos nessa história. Em primeiro lugar, estamos presenciando o surgimento de diversos conflitos sociais, decorrentes de divergências culturais entre nativos e imigrantes que, em não raros casos, são inconciliáveis. Também há o problema dos indivíduos que emigram não para construir uma vida em um novo país, mas sim para desfrutar do estado de bem-estar social empregado no Ocidente. Em resumo, é pouco provável que essa seja, de fato, a solução para os problemas da Europa.
A verdade é que estamos diante de uma série de problemas que foram causados, em primeiro lugar, pelo próprio estado. Se fizermos uma análise honesta dessa questão, chegaremos à conclusão de que a origem dos problemas previdenciários do Ocidente, como um todo, está no estado. Ou, de forma mais específica, na perversão estatal do tecido social: pessoas que preferem depender do dinheiro do governo, ao invés de contar com sua própria poupança, ou com sua família.
Em primeiro lugar, as famílias ocidentais estão morrendo. Os europeus não estão apenas se casando menos - e estamos falando de uma redução de 50% no número de casamentos, entre a década de 1960 e o final da década passada. Nesse mesmo período, o número de divórcios do continente quase triplicou. Ou seja: temos menos famílias sendo formadas na Europa, e mais famílias sendo dissolvidas.
Só que isso fica ainda pior quando analisamos a questão dos filhos - porque os europeus simplesmente não querem mais tê-los. A taxa de fecundidade das nações europeias é de míseros 1.53 filhos por mulher. A título de comparação: a média mundial é de 2.52 filhos por mulher. Para que a população de um país fique estável, essa taxa deveria ser de pelo menos 2.1. Agora, pense no caso da Espanha: por lá, a taxa de fecundidade está na casa dos 1.13 filhos por mulher. Isso, obviamente, também agrava a questão previdenciária.
Nesse cenário, portanto, as famílias não sustentam mais seus entes idosos, porque simplesmente não há famílias. No passado, ter uma família numerosa era uma forma bastante viável de garantir seu sustento na velhice. Contudo, ao longo do século 20, muitos acreditaram no conto de fadas estatal, de que o governo garantiria o sustento para todos. Nessa realidade idílica, para que se importar em ter muitos filhos?
O problema, porém, não pára na questão social - também há o aspecto econômico a ser analisado. A verdade é que o valor da aposentadoria estatal está cada vez menor - se não nominalmente, pelo menos na prática. De forma mais clara, podemos afirmar que a inflação tem consumido o poder aquisitivo das pensões dos europeus, ano após ano.
Os governos europeus esperam que seus cidadãos poupem dinheiro para complementar a aposentadoria estatal; contudo, uma fração muito pequena dos trabalhadores europeus tomam essa iniciativa. Apenas 23% deles possuem plano de aposentadoria vinculados aos seus empregadores; e só 19% dos cidadãos economicamente ativos possuem previdência privada. De forma geral, estima-se que quase 40% dos europeus não estão economizando para sua velhice. Entre aqueles que já ultrapassaram os 50 anos, esse número é ainda maior.
Sim: a maior parte dos europeus depende diretamente do estado para sobreviver. Estamos falando de dados mais do que alarmantes, por se tratar de um continente rico. Só que, como sempre acontece, quando falamos do estado, o problema vai além: muitos dos que estão guardando dinheiro hoje, estão frustrados com os baixos rendimentos acumulados.
A inflação tem sido um verdadeiro flagelo econômico para os cidadãos do Velho Continente. As taxas de inflação europeias chegaram a atingir níveis latinoamericanos, em 2022 - coisa de 10% ao ano, ou mais. Isso, obviamente, deteriorou de forma considerável o poder aquisitivo das pensões, além de reduzir o rendimento dos fundos privados. Esse problema, por sinal, não se restringe à Europa: no ano passado, os investimentos para aposentadoria ao redor do globo tiveram um rendimento médio de 8%. Se desconsiderarmos a inflação e a queda econômica da pandemia, esse rendimento cai para 2% ao ano, nos últimos tempos. Um resultado pífio, sem dúvidas.
É por isso que mais da metade dos europeus que complementam suas pensões estatais com pensões privadas não se sentem confiantes na manutenção de seu poder aquisitivo. Ou seja: os europeus já têm plena consciência de seu problema. E é por isso, também, que já se sabe que a próxima geração de aposentados na Europa vai ganhar menos dinheiro, e vai se aposentar mais pobre. Economistas avaliam que haverá uma grande migração da previdência social para modelos privados, nas próximas décadas. Isso, contudo, não vai resolver os problemas de todos aqueles que não se prepararam para o colapso da previdência estatal.
Essa é, de fato, outra perversão estatal: a destruição do dinheiro. No longo prazo, a moeda tutelada pelo estado tende a se desvalorizar brutalmente, pulverizando a rentabilidade e o poder aquisitivo dos investimentos e das poupanças. Recursos acumulados ao longo de uma vida de trabalho podem simplesmente não valer mais nada, quando a idade da aposentadoria chegar. Ou podem, numa hipótese não tão drástica, ser insuficientes para manter o padrão de vida planejado. Em qualquer desses cenários, estamos falando de o estado roubando os recursos e o futuro das pessoas.
Agora, junte o problema inflacionário europeu com o colapso demográfico do continente, e o estrago está feito. Mesmo um continente rico, com séculos de acúmulo de capital, não está imune ao desastre da intervenção estatal. Poucas décadas de loucura econômica e de ilusão assistencialista foram capazes de comprometer o futuro de populações inteiras. O que gerações de europeus construíram com esforço e liberdade, vai ser destruído, em pouco tempo, pelos políticos.
Infelizmente, contudo, esse problema não está restrito à Europa. Onde haja intervenção estatal, ali haverá destruição da riqueza, do tecido social, e das perspectivas futuras. Os sistemas de aposentadoria estatais, tal como a moeda estatal, são insustentáveis. É só questão de tempo até colapsarem, por completo. E aí, quem depender desses sistemas vai sofrer - mesmo se viver naquele que, outrora, foi o continente mais rico do mundo.
https://www.dw.com/pt-br/europa-tenta-equilibrar-a-balan%C3%A7a-da-previd%C3%AAncia/a-69936189
https://agoraeuropa.com/paises/cai-numero-de-casamentos-e-dobram-pedidos-de-divorcio-na-europa-aponta-ue/
https://veja.abril.com.br/mundo/taxa-de-natalidade-atinge-nivel-mais-baixo-da-historia-na-espanha
https://www.politico.eu/article/europe-pensions-problem-france-reform/
VOCÊ vai SE APOSENTAR aos 78 ANOS: estudo prevê o COLAPSO DO INSS em POUCO TEMPO
https://www.youtube.com/watch?v=Pf_VatWdz24