O estado não pode ver ninguém fazendo sucesso, que já quer logo atrapalhar. Isso se aplica, inclusive, a produtores de conteúdos eróticos na internet.
O nome dela é Martina, mas certamente você a conhece como “Beiçola do OnlyFans”. Certo, o apelido “Beiçola” se deve ao corte de cabelo bastante peculiar da moça - que, de fato, lembra um pouco o do icônico personagem do seriado “A Grande Família”. Já a parte do “OnlyFans” é um pouco injusta, uma vez que Martina não exerce o seu “trabalho” apenas nessa plataforma, mas também em outras, com um funcionamento semelhante, como a Privacy. Não que eu seja um especialista nesses assuntos, eu só li a história por alto no Twitter…
De qualquer forma, você certamente já sabe qual é o ganha-pão da Martina. Ela, como várias outras pessoas bem-sucedidas da atualidade, produz conteúdos eróticos e explícitos para a internet, que podem ser acessados mediante uma assinatura mensal - são os famosos “conteúdos”. Martina poderia ser apenas mais uma nesse nicho de mercado promissor; só que ela logo percebeu que precisaria fazer algo para se destacar. E se você não tem um filho homem para filmar seus conteúdos e se vangloriar disso na internet, a estratégia precisa ser outra.
A Beiçola do OnlyFans, então, começou a se destacar nas redes sociais com vídeos curtos do TikTok, nos quais a moça aborda pessoas aleatórias na rua, fazendo perguntas estranhas e inusitadas. Geralmente, algo como: “Você prefere 2 reais ou um presentinho?” e coisas do tipo. Se as abordagens são verídicas ou se é tudo armado, fica a seu critério. Mas a verdade é que a estratégia deu certo e ela ganhou bastante visibilidade nas redes.
Logo em seguida, Martina se envolveu em mais uma polêmica - desta vez, ao anunciar que já havia faturado 500 mil dinheiros com seus trabalhos na Privacy. Acredite ou não, muito marmanjo apareceu nos comentários pedindo para o Fernando Haddad taxar os ganhos com essas plataformas. Pra você ver até onde chega o socialismo do brasileiro… Mas a coisa repercutiu mesmo quando um indivíduo afirmou que sua mãe possuía pós-doutorado e não ganhava nem uma fração do que a Martina ganhava. A moça, mais do que rapidamente, afirmou que isso era azar da mãe do rapaz, que escolheu não ser “p”.
Até aí, tudo bem: são apenas polêmicas da internet, que por sinal fazem muito bem para os negócios da moça. Afinal de contas, isso a mantém em evidência e faz o interesse pelo seu conteúdo apenas aumentar. Porém, o grande problema foi que, ao que parece, o estado finalmente encontrou Martina, por meio da atuação do Ministério Público de Porto Alegre - cidade onde a moça reside.
Conforme a própria Beiçola do OnlyFans revelou em suas redes sociais, a moça foi notificada pelo MP, a respeito de algumas de suas propagandas, espalhadas pela capital gaúcha. No caso, alguns cartazes e um outdoor sugerindo a leitura de um QR Code, para aqueles que quisessem ver Martina com pouca ou nenhuma roupa. E também a cereja do bolo: cartazes em que a moça afirma ter tentado “vender um pastel”... mais uma vez, ela oferece um QR Code, para aqueles que quiserem ver algo que, pelas letras disponíveis, só pode ser BATATA.
Veja que, até o momento, estamos tratando a coisa toda com muito bom humor. Mas, de humor, o estado não entende nada. Martina foi notificada por causar “danos ambientais e poluição visual” na cidade. Supostamente, as propagandas foram colocadas de forma irregular. Ou, vai ver, o pessoal do MP simplesmente não gosta do trabalho da Martina e, sem terem algo melhor para fazer, resolveram encher o saco da moça. Por que, no fim das contas, essa história toda é mesmo uma pura e simples encheção de saco estatal.
Algumas pessoas logo saíram em apoio das ações do Ministério Público, afirmando que a Beiçola do OnlyFans estaria influenciando mal as pessoas. Por conta de sua forma apelativa de exibir seu conteúdo, e por se vangloriar de seus ganhos financeiros, Martina estaria incentivando outras mulheres a seguir por esse mesmo caminho. Suas ações estariam promovendo baixaria e promiscuidade. Até mesmo menores de idade poderiam terminar seguindo seus passos, por conhecer a repercussão de seu caso. Em outras palavras: tem muita gente pagando de moralista nessa história.
Mas, afinal de contas, qual é a visão do libertarianismo sobre o caso da Beiçola do OnlyFans? Do ponto de vista libertário, questões morais são irrelevantes - isso é uma escolha pessoal, cada um toma suas decisões dentro dos limites de sua propriedade. Pela ética libertária, Martina é a legítima proprietária do seu próprio corpo. Com ele, ela faz o que bem entender. Se ela decidir exibir seu corpo para ganhar dinheiro, esse é um direito dela, e ninguém poderá impedi-la, posto que ela é maior de idade e, portanto, plenamente consciente de seus atos. Se, um dia, ela se arrepender de tudo isso, também será um problema que caberá só a ela enfrentar.
Isso vale para qualquer indivíduo: na ética libertária, cada um faz o que quiser com o seu corpo. Prostituição, práticas homossexuais, orgias - nada disso fere o conceito da propriedade privada, desde que tudo aconteça de forma consentida, sem coerção. Se isso é moralmente aceitável ou não, cabe a cada um decidir. Na sua liberdade individual, você pode reprovar as atitudes de Martina, ou de qualquer outra pessoa, se recusar a recebê-la na sua casa, ou mesmo condená-la ao fogo do inferno. Novamente: tanto a opção da moça por exibir seu corpo por dinheiro, quanto sua opção por considerar isso certo ou errado, são escolhas pessoais que não ferem a ética libertária.
Quanto às propagandas que a Beiçola do OnlyFans espalhou pela cidade: se os donos dos locais onde elas foram exibidas aceitaram sua publicação, então, isso é belo e moral. Se os cartazes foram colados com autorização dos proprietários, e se os outdoors foram exibidos com a conivência de seus donos, então não houve dano à propriedade privada. Agora, se Martina colou seu material publicitário sem autorização dos donos dos locais, então, houve sim violação dos princípios libertários. Nesse caso, cabe ressarcimento aos prejudicados. Se essa compensação será feita em dinheiro ou em conteúdos do Privacy da Martina, aí vale uma negociação.
Enfim: o Ministério Público afirmou que a notificação não tem qualquer relação com o conteúdo produzido pela moça. Os funças estariam, apenas, atendendo a uma solicitação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente da cidade. Agora, Martina tem 15 dias para prestar as informações solicitadas pelo MP. Caso a coisa avance para a Justiça e Martina seja condenada, ela pode ter que pagar uma multa com valores entre R$ 2.600 e R$ 15.700, por conta de propaganda irregular. Nada que algumas assinaturas do seu Privacy não resolvam, mas, ainda assim, seria um absurdo completo.
Afinal de contas, toda a repercussão do caso trará um efeito muito conhecido para a vida de Martina: o Efeito Streisand. Em resumo, esse efeito representa o caso em que a tentativa de evitar que algo seja conhecido pelo grande público atinge justamente o resultado oposto: mais gente acaba se inteirando do assunto. Em primeiro lugar, e puxando a sardinha para o nosso lado, muita gente vai acabar se interessando pelos princípios libertários por conta dessa história - acredite ou não. Toda vez que o estado toma esse tipo de atitude, mais pessoas percebem que a função do estado é, apenas, encher o saco de pessoas que estão vivendo sua vida em paz. Pois é: o libertarianismo é tão forte no coração das pessoas, que até mesmo o caso de uma produtora de conteúdos eróticos pode apontar nessa direção.
E, em segundo lugar, o que o Ministério Público vai conseguir com toda essa confusão é, apenas, dar mais visibilidade para Martina - muito mais, inclusive, do que seus cartazes seriam capazes de fazer. E é a própria produtora de conteúdos eróticos que afirma isso, em entrevista concedida ao site G1: “Confesso que eu tô até um pouco feliz. Porque toda propaganda que acontece em cima do meu nome é boa. Na criação de conteúdo todo dia tu tem que criar uma coisa nova pra chamar a atenção das pessoas. Essa semana eu nem tinha nada em mente de bombástico para fazer e aí veio isso”.
A moça, inclusive, aproveitou todo o hype para fazer uma promoção no seu Privacy - que teve o valor de assinatura reduzido para apenas 10 mangos. Porém, se você se empolgou com essa promoção, sinto lhe desapontar: parece que a promoção iria durar apenas 24 horas. Não sei se isso procede; eu não fui lá verificar… O que posso afirmar é que a Martina, sem dúvidas, levou bastante a sério aquela história, que podemos adaptar para nossa realidade libertária. Se o estado te der limões, faça com eles uma bela limonada. Não existe publicidade negativa.
https://twitter.com/martinaolvr_/status/1716518575219900734
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/09/19/outdoor-com-qr-code-convida-para-ver-nudes-ha-limite-para-a-propaganda.htm