Não só o Brasil sofre com favelas, mas todo lugar que passou ou passa por regimes socialistas, como a Índia. Agora, o bilionário indiano Gautam Adani busca reformar Dharavi, a maior favela do país, mas será que vai dar certo?
Para entendermos a questão, precisamos primeiro dar um zoom e contextualizar o processo de crescimento de Dharavi, a maior favela favela indiana, localizada em Mumbai. Vamos começar contando o caso de Masoom Ali Shaikh, que em 1974 veio do norte da Índia e se instalou no local. Quando montou sua loja, o pedaço de terra era, segundo as falas do morador, "apenas um riacho sem estrada adequada e lixo por todo lado".
Com o processo de desenvolvimento e enriquecimento da Índia, devido ao crescimento de práticas capitalistas, especialmente após a queda da Cortina de Ferro e da União Soviética, o país como um todo se desenvolveu, assim como a favela. Cinquenta anos depois, a mesma área pantanosa, antigamente uma vila de pescadores e depósito de lixo, passou a se tornar Dharavi, uma das maiores favelas da Ásia, e um centro industrial movimentado na região de Mumbai, sendo retratada no filme “Slumdog Millionaire”, lançado no Brasil com o título "quem quer ser milionário", que venceu o Oscar no ano de 2008.
Dharavi é nada mais do que uma favela que aglomera pequenas empresas e artesãos em cada esquina, de padarias a açougues e barbeiros e, com mais de um milhão de habitantes espremidos em cerca de 200 hectares. Tais empreendimentos atendem às necessidades dos moradores, vivendo lado a lado em condições insalubres e anti-higiênicas, sendo também propícia para proliferação de doenças, mostrando o descaso do governo Indiano para com os mais pobres, que vivem literalmente com esgotos à céu aberto e se banham em rios imundos.
Muitos dos trabalhadores em Dharavi são migrantes e artesãos, que trouxeram consigo habilidades vitais de suas terras natais. Tais empreendimentos faturam mais de um bilhão de dólares anualmente, sendo uma fonte crucial de sustendo para muitas famílias, que vivem na favela há gerações.
Apesar disto, as autoridades locais, e até mesmo moradores se queixam dos inúmeros problemas da favela, incluindo superlotação extrema, mas também higiene e saneamento em estado crítico. Muitos dos moradores não possuem acesso à água encanada ou banheiros limpos, também sofrendo de vários problemas de saúde devido a tais mazelas sociais, causadas em grande parte pelas décadas passadas de governo socialista Indiano.
Normalmente o crescimento de favelas é fruto da tragédia dos comuns. Uma área sem dono aparente, ou cujo dono é o governo que não delimita, muito menos cuida e defende, acaba invadida por situar-se em posição geográfica privilegiada, próxima de centros comerciais ou industriais. Como o reconhecimento de propriedade é precário, ninguém se anima a investir com visão de longo prazo, incentivando a ocupação desordenada e o uso de construções precárias e de baixo custo.
Ao longo das décadas, inúmeras tentativas para reconstruir Dharavi foram tentadas, um processo que foi sempre politicamente tenso por várias razões: as dimensões enormes, a alta densidade populacional, o elevado valor de suas terras, a especulação imobiliária entre outros. Mas, apesar de todo este caos, há um vislumbre de mudança a partir do visionário e bilionário empreendedor Gautam Adani, fundador do Grupo Adani e hoje o segundo homem mais rico do mundo.
A ideia de Adani é reconstruir completamente Dharavi através de uma reformulação completa do espaço urbano, permitindo com que todos tenham acesso ao saneamento e infraestrutura mínima. Com os problemas relacionados à falta de conforto sendo solucionados, tudo de forma pacífica e com dinheiro vindo através da iniciativa privada. A ideia de Adani é transformar Dharavi de uma das maiores favelas da Índia em uma cidade de última geração, reflexo do posicionamento da Índia como potência emergente, especialmente após a estagnação chinesa se mostrar indisfarçável, devido à explosão da sua bolha imobiliária, do desmonte do sistema educacional, da baixa natalidade, do socialismo, do planejamento central, do controle social e político, enfim...
Em meio a todo este mar de prosperidade trazido pelas iniciativas de Adani, que visam preparar a cidade para as oportunidades do capital migrando da China para a Índia, há inúmeros críticos, tanto de moradores locais que se opõem às visões de progresso do empresário. Entre os apoiadores está o artesão Masoom Ali Shaikh, que vê nas reformas uma oportunidade de crescer seu empreendimento artesão a novos patamares e trazer mais oportunidade à sua família, que já trabalha com ele há várias décadas.
De acordo com as autoridades de Mumbai, Indianos e imigrantes se mudam para Dharavi há mais de um século por ser o exemplo perfeito do progresso que a falta de regulamentação estatal pode trazer. Desde o começo, a região foi marcada pela indústria do artesanato, chegando no final dos anos 1800. O crescimento da favela refletiu o da própria cidade de Mumbai, uma cidade diversificada em termos de empreendimentos, incluindo aspirantes a Bollywood, mas também candidatos a emprego de toda a Índia.
Ao contrário do resto do país, Dharavi se tornou uma terra próspera e verdadeiramente aberta ao mercado, permitindo que muitos consigam ter sua subsistência garantida, e gerando empregos a todos os pequenos comerciantes da favela. Porém, devido ao crescimento da burocracia estatal nesses últimos 200 anos, que impediu investimentos privados de alto padrão, Dharavi permaneceu subdesenvolvida e apartada do sistema formal indiano durante décadas. Foi somente a partir da década de 70 que o governo, à época liderado pela Indira Gandhi, decidiu adotar o populismo através de investimentos básicos relacionados à construção de infraestrutura. O resultado já conhecemos: corrupção, ineficiência, ajuda a amigos, pobreza e morte.
Ao mesmo tempo em que engessou a economia, dificultado a criação de riqueza, o governo Indiano procurou por investidores para realizar o processo de reforma de Dharavi desde os anos 70, porém sem sucesso. Isto fez com que a favela continuasse crescendo, sem planejamento urbano adequado e de forma totalmente desordenada, com algumas partes se apróximando do centro de Mumbai.
Apesar de haver muitas dúvidas sobre como e quando as reformas serão feitas, e também como os realojamentos serão realizados, a grande verdade é que todo este problema poderia ter sido resolvido lá atrás, quando a Índia ainda estava se desenvolvendo por meio de políticas de governança sábias. Ao invés disso, os burocratas preferem colocar o governo babá socialista como a solução dos problemas, e gerar incerteza na sociedade ao afirmar que todos os artesãos irão perder seus empregos, simplesmente devido a uma reforma urbana e só porque ela tem uma iniciativa privada.
Não poderia estar mais longe da realidade. Historicamente falando, as piores reformas urbanas foram feitas pelo próprio estado, e não pela iniciativa privada, como durante as reformas de Moscou dos anos 2010 feitas por Vladimir Putin, onde metade do orçamento da reforma urbana foi gasto apenas para reformar a capital, ou durante as reformas do "bota abaixo" feitas pelos sanitaristas e urbanistas positivistas brasileiros no começo do século 20. Seja na economia, seja no planejamento urbano, o estado sempre dá as caras dando pouco com uma mão, e tirando muito com a outra, sacaneando o pobre cidadão comum e enriquecendo seus aliados.
Após décadas de tentativas fracassadas de reformar a cidade, perdida em um mar de burocracia, criado pelo próprio planejamento central Indiano, a empresa de Adani finalmente ganhou o direito de reconstruir Dharavi com uma oferta de 50 Bilhões de Rúpias Indianas. Apesar de o projeto levar cerca de sete anos para ser concluído e poder mudar completamente o aspecto insalubre da cidade, não deixa de ser o mais recente megaprojeto assumido pela Adani Enterprises, que já fornece eletricidade em Mumbai. Seria este algum tipo de ancapistão indiano?
A principal preocupação dos moradores é a questão do realojamento e possível perda de seus empregos e subsistência local. Alguns, desconfiados com propostas antigas vindas do governo socialista também se preocupam se isto é mais uma promessa vazia, ou algo que realmente irá transformar Dharavi em uma região mais próspera.
Porém, para todos os efeitos, isto apenas mostra a ineficiência do estado para com seus projetos urbanísticos, desde o Brasil e Rússia, criando-se aberrações arquitetônicas Stalinistas, à Índia e China, onde um possui mais favelas que cidades, e o outro possui milhares de cidades fantasmas. Engana-se também quem pensa que a Índia é mais capitalista que a China. Apesar de ser uma democracia igual ao Brasil, possui problemas semelhantes ao posso país, incluindo os extremos níveis de corrupção e controle estatal na vida dos cidadãos.
Isto é um exemplo clássico de que nenhuma inovação genuína ou progresso verdadeiro vem do estado, e sim de indivíduos do setor privado. Os melhores projetos arquitetônicos nunca foram feitos por governos, e sim por empresas privadas que, expostas aos incentivos de mercado, tem as melhores chances de atender às reais demandas da população.
O que o estado faz é tentar pular etapas, gerar fatos políticos populistas e garantir mais poder e dinheiro para os seus, além de sacanear os inimigos, claro. Assim, distorcendo os incentivos, inevitavelmente leva a projetos de qualidade muito inferior aos do setor privado.
E para avançar na compreensão do funcionamento de cidades, veja agora o vídeo "Cidade, a matrix em que vivemos", link na descrição.
"Cidade, a matrix em que vivemos"
https://www.youtube.com/watch?v=swTF80Tte84
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/um-dos-homens-mais-ricos-do-mundo-quer-transformar-a-maior-favela-da-india/
https://www.themoscowtimes.com/2019/12/13/moscows-urban-renewal-budget-equals-rest-russias-a68613