O governo comunista da China decidiu imprimir dinheiro para lançar um pacote de incentivo às incorporadoras, para evitar o total colapso do setor imobiliário do país. E todos nós já sabemos onde isso vai dar!
Nos últimos dias, notícias econômicas muito ruins para a China acabaram repercutindo nos noticiários internacionais. Embora o crescimento do setor industrial tenha sido maior do que o previsto pelo consenso do mercado, o fato é que o consumo diminuiu 2,3% no mês de abril, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso representa um grande problema para a economia: menor consumo pode se reverter, futuramente, em menor produção industrial, revertendo os ganhos da indústria chinesa nesse período.
Mais grave do que isso, contudo, é o fato de que os investimentos na economia chinesa seguem minguando. Nesse mesmo mês de abril, o valor total investido foi o menor desde novembro do ano passado - um montante de 58 bilhões de yuans, contra 86 bilhões no mês de março. No acumulado de 12 meses, esse valor sofreu uma queda de 28%. Só que, no decorrer de 2023, os investimentos já haviam caído 8%. Ou seja: estamos diante de uma situação realmente preocupante, para o governo de Xi Jinping.
Acontece que a real catástrofe está mesmo ligada ao setor imobiliário chinês - que já vem capengando há um bom tempo. As grandes incorporadoras chinesas estão afundadas em dívidas colossais, que são virtualmente impagáveis. Nós já tratamos desse assunto, aqui no canal, em outras oportunidades - como nos vídeos: “Evergrande colapsa e ameaça a economia do mundo todo” e “O caso COUNTRY GARDEN é mais um para o COLAPSO do MERCADO imobiliário CHINÊS”. Os links estão na descrição deste vídeo.
Foi justamente para conter a quebradeira do setor que, em meados de maio, o Partido Comunista Chinês divulgou a informação de que vai tomar medidas drásticas - tratadas como “históricas”, pelo comunicado oficial - para conter esse problema. E qual foi a solução apresentada pelo partidão para resolver essa crise? Imprimir mais dinheiro, é claro! Estamos falando, nesse caso, de um pacotaço de 1 trilhão de yuans, equivalente a US$ 138 bilhões - grana essa dedicada ao financiamento extra e à flexibilização das regras de hipoteca.
Mas a rodada de intervenções não para no governo central: os governos locais também foram instruídos a comprar “alguns” apartamentos – sabe-se lá quantos. De acordo com o Ministério da Habitação da China – e sim, isso existe – os governos das províncias podem inclusive “instruir” as estatais a comprar algumas casas para aliviar a oferta. A ideia é revender essas casas, posteriormente, à população mais pobre, a preços “acessíveis”. Ou seja, esse será um projeto de moradias subsidiadas para aquecer a economia. Fala sério: isso tem cara de que vai funcionar?
Só que a insanidade não termina aí. Atualmente, os governos das províncias já detêm um valor total de US$ 9 trilhões em dívidas – grande parte desse montante relacionado às incorporadoras. Agora, com esse novo pacote, os governos locais poderão recomprar terrenos que o próprio governo vendeu de maneira financiada às construtoras para gerar caixa. Sabe aquele meme da tomada de uma extensão sendo ligada na própria extensão? Pois é.
O pior é que absolutamente todo mundo sabe de onde vai vir a grana para custear essa farra toda. O governo chinês vai continuar imprimindo dinheiro do nada - talvez, com um ímpeto ainda maior. Veja que, em 2023, o Banco Central da China emitiu mais dinheiro do que em qualquer outra época da sua história - foram quase 12 trilhões de yuans tirados do nada. E todo mundo sabe, também, aonde isso vai dar: inflação e desvalorização da moeda.
A grande pergunta que resta, contudo, é: será que esse pacote intervencionista vai funcionar, em seu intento? E a resposta óbvia é: não. Em primeiro lugar, porque ele é insuficiente. De acordo com dados divulgados pela Moody’s, as novas medidas do governo chinês não passam de uma gota d’água num oceano. Afinal de contas, os dados oficiais do partidão apontam para a existência de quase 400 milhões de m² de imóveis finalizados e não vendidos.
Como estamos falando de dados oficiais, é bem provável que esses valores estejam subestimados. Ainda assim, essa área é equivalente a quase 7 vezes a área total de Manhattan. Mas isso vai piorar bastante: até o fim do ano, a área total de imóveis não vendidos vai saltar para inacreditáveis 3 bilhões de m² - o dobro da área total de Londres. Isso se explica pelo fato de que o número de imóveis ofertados supera de longe o número de casas adquiridas. Na verdade, estamos falando de uma proporção de 20 para 1.
De acordo com estimativas feitas pelo Goldman Sachs, o valor total de todos os imóveis disponíveis para venda na China é de 13,5 trilhões de yuans - quase US$ 2 trilhões de dólares. Portanto, o total disponibilizado pelo governo chinês para a contenção desses danos representa apenas uma fração do problema total. Só que, acredite ou não, existem estimativas ainda piores.
Segundo He Keng, ex-diretor do Departamento Nacional de Estatísticas da China, a quantidade total de imóveis disponíveis no país poderia abrigar 3 bilhões de pessoas. Acontece que o país, como bem sabemos, não tem nem metade disso - e a população está caindo, conforme demonstramos no vídeo: “CHINA terá 300 MILHÕES de IDOSOS a mais nas próximas DÉCADAS: o COLAPSO está chegando” - link na descrição. Ou seja: não existe saída para um cenário tão distorcido assim.
Como nos ensina a mais sólida teoria econômica de que dispomos, o excesso de oferta leva inevitavelmente a uma redução nos preços. É por isso, portanto, que os preços dos imóveis na China atingiram os menores valores em uma década. A tragédia maior, contudo, é que nem mesmo assim os chineses querem comprar imóveis. Aí, com um estoque virtualmente inesgotável, mas com uma demanda decadente, as incorporadoras chinesas estão condenadas ao colapso. E com elas, a economia da China como um todo.
Não pense que o governo de Xi Jinping está tomando essas medidas de intervenção por simples vontade própria. Estamos falando de um misto de necessidade com pressão por parte de investidores, que estão apavorados com a possibilidade de ver seu patrimônio evaporar da noite para o dia. Só que, como bem sabemos, nada disso vai evitar o inevitável colapso chinês - que já está previsto há um bom tempo.
A raiz de todos os problemas econômicos do gigante asiático está justamente na intervenção estatal. A verdade é que o governo comunista da China precisa demonstrar um pujante crescimento econômico para justificar sua existência e sua permanência violenta no poder. Para isso, o partidão sempre lançou mão de uma série de maluquices econômicas, que tiveram no setor imobiliário seu exemplar mais notável. Esse setor, inflacionado por políticas estatais, especialmente a partir de 1990, chegou a representar ¼ da economia do país.
Só que a expansão desse setor tem limites naturais. A quantidade de casas demandadas pelo povo vai atingir um teto, em algum momento. Aí, todo aquele crescimento exponencial do PIB vai deixar de existir. Portanto, como sustentar esse crescimento econômico exagerado no longo prazo? Países livres tendem a migrar sua economia para outros setores, conforme a riqueza vai sendo acumulada - como a área de tecnologia, os serviços ou mesmo a produção voltada para o exterior. Só que, no caso de um governo com planejamento central, como o da China, a solução encontrada sempre é forçar a barra, para manter o crescimento insustentável de um setor que já ultrapassou todos os seus limites.
Por isso, durante anos a fio, o governo de Pequim deu diversos incentivos às incorporadoras - que tiveram acesso a crédito barato, com os governos locais viabilizando empréstimos subsidiados. Também houve uma facilitação para que os cidadãos chineses contraíssem empréstimos e hipotecassem seus imóveis. Foi a farra do setor imobiliário, que decorreu muito bem - até que tudo deu muito errado.
Os sucessivos calotes, por parte dos compradores, obrigaram o governo chinês a rever suas políticas - aumentando a taxa de juros e dificultando o acesso a financiamentos imobiliários. Como consequência direta, adquirir um imóvel na China se tornou um grande desafio para os habitantes locais. O resultado desse novo cenário foi uma drástica redução na demanda, no momento em que as incorporadoras estavam mais endividadas, com a referida expansão da oferta de imóveis.
Chegamos, então, ao crepúsculo das grandes empresas da construção civil chinesa. A citada Evergrande, nascida em 1996 para ser uma gigante do setor, chegou a ser, em 2018, a maior incorporadora do mundo. Agora, a empresa está completamente arruinada - e esse problema se estende a várias outras empresas do ramo. E, como sempre acontece nesses casos, a crise será sistêmica.
Incorporadoras com problemas de solvência representam um setor de construção civil em declínio. Isso vai gerar um forte desemprego - na verdade, 500 mil empregos já foram perdidos nesse setor, desde 2020. Na sequência, as instituições financeiras, que emprestaram montanhas de dinheiro para essas incorporadoras, vão sofrer pesados calotes que, provavelmente, resultarão em sua própria falência. E quanto o setor financeiro quebra… bem, você já sabe onde isso costuma dar.
Mas qual seria, no fim das contas, o tamanho desse buraco? Estimativas mais seguras afirmam que o total de imóveis inacabados na China é equivalente a 20 vezes o estoque total da citada Country Garden. Ou seja: podemos estar diante de um colapso 20 vezes maior do que o daquela que já foi considerada a maior empresa do setor no país. Sentiu o drama? Pois é.
O governo comunista da China precisaria intervir muito mais - não para resolver o problema, mas apenas para empurrá-lo com a barriga. Acontece que o combustível já acabou: o novo pacote anunciado por Pequim não faz nem cócegas na crise que se avizinha. Por isso, não parece haver nenhuma alternativa ao governo chinês, a não ser continuar esperneando, ameaçando os vizinhos com exercícios militares, enquanto contempla o seu próprio fim.
Afinal de contas, estamos testemunhando, em tempo real, o preço da intervenção estatal e do socialismo. Muitos de nós não pudemos acompanhar isso, ao vivo, durante o fim da União Soviética; bem, parece que a nossa oportunidade finalmente chegou. Décadas de pesada interferência estatal na economia chinesa finalmente vão cobrar seu preço – disso não temos dúvida. A única questão que fica é: depois desse inevitável colapso, o que vai sobrar da China e, talvez, do mundo todo?
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/05/16/china-consumo-e-investimento-diminuem-em-abril-produo-industrial-melhora.ghtml
https://www.infomoney.com.br/economia/producao-industrial-da-china-surpreende-em-abril-mas-varejo-decepciona/
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/05/24/fluxo-de-investimento-estrangeiro-na-china-cai-para-menor-nvel-desde-novembro.ghtml
https://convexresearch.com.br/blog/economia/colapso-a-vista-perdas-com-setor-imobiliario-na-china-podem-atingir-us-4-trilhoes/
https://www.reuters.com/world/china/chinas-latest-property-market-support-package-its-contents-whats-stake-2024-05-23/
https://www.cnbc.com/2023/11/15/chinas-unfinished-property-projects-are-20-times-the-size-of-country-garden.html
https://www.atlanticcouncil.org/blogs/econographics/theres-less-to-chinas-housing-bailout-than-meets-the-eye/
https://www.statista.com/statistics/458737/china-amount-of-currency-issued/
"Evergrande colapsa e ameaça a economia do mundo todo":
https://www.youtube.com/watch?v=b7i3sgbG9iY
"O caso COUNTRY GARDEN é mais um para o COLAPSO do MERCADO imobiliário CHINÊS":
https://www.youtube.com/watch?v=f1pJpIjfllM
“CHINA terá 300 MILHÕES de IDOSOS a mais nas próximas DÉCADAS: o COLAPSO está chegando”:
https://www.youtube.com/watch?v=pctD7nk5Uu8