Na medida em que a candidatura de Donald Trump se torna mais certa, os mercados financeiros começam a precificar o custo de suas prováveis medidas, enquanto presidente dos Estados Unidos.
As eleições presidenciais dos Estados Unidos, que terão lugar no dia 5 de novembro deste ano, estão mexendo com os ânimos de todo mundo - não apenas dentro do território norte-americano, mas também em outros países. E quando falamos “todo mundo”, estamos nos referindo tanto a políticos de outras nações - como as da União Europeia, - quanto ao mercado financeiro, com suas conhecidas previsões. Você sabe bem como funciona essa gente: eles amam fazer previsões e brincar de futurologia. É como diria o personagem Mark Hanna, de O Lobo de Wall Street: “Não importa se você é Warren Buffett ou Jimmy Buffett, ninguém sabe quando uma ação vai subir, descer ou girar em círculos”.
A verdade é que, seja como for, os mercados já estão precificando a alta probabilidade de que Donald Trump seja eleito para seu segundo mandato. Pois é: tem muita gente que tenta fingir que a coisa não é bem assim, mas a vantagem do Homem Laranja Mau em relação ao Joe Biden é cada vez maior. E os recentes números obtidos por Trump em Iowa e New Hampshire demonstram que, sem dúvidas, ele vai ser o nome republicano para as eleições deste ano. Para além das primárias, porém, existem ainda pesquisas que demonstram que Trump está à frente de Biden, inclusive dentro de alguns redutos da base eleitoral tipicamente democrata.
É claro que a candidatura de Donald Trump está envolvida em muitos riscos legais. Nós temos acompanhado, inclusive, o caso de alguns estados norte-americanos que impediram a candidatura do republicano. Muito disso se deve, sem dúvidas, à possibilidade de que Trump seja responsabilizado pelos famigerados atos de 6 de janeiro. Mas, como bem sabemos, os Estados Unidos não são a ‘Casa da Mãe Joana’, como o Brasil. Portanto, é bem provável que, sendo indicado pelos republicanos, Donald Trump realmente concorra às eleições.
É por isso que, com base nesse cenário, o mercado financeiro tem precificado três problemas que, supostamente, serão agravados por uma vitória do Trump. Em primeiro lugar, está a questão do corte de impostos - e sim, eles consideram isso algo ruim. O ponto é que um corte na tributação representa aquilo que é conhecido pelos estatistas como “renúncia fiscal”. Ou seja: o governo terá uma redução em suas receitas, algo que poderá impactar negativamente no cenário fiscal, no médio e no longo prazos. Estamos falando, nesse cenário hipotético, de um forte crescimento da dívida pública norte-americana que, ao que tudo indica, já é mais do que insustentável.
Entra aí, então, no problema do peso da dívida pública - que é um complemento do ponto anterior. É fato que a demanda pelos títulos da dívida pública dos Estados Unidos está menor, o que obriga o governo a pagar juros mais altos para captar recursos. Por conta disso, o Federal Reserve está na corda bamba, no que se refere ao tema da dívida pública. A forma mais fácil de atrair recursos é mesmo aumentando a taxa de juros. Porém, se os juros subirem, além de a economia como um todo ficar prejudicada, o serviço da dívida - ou seja, o custo financeiro - sobe junto. Em outras palavras: teremos ainda mais déficit fiscal - um cenário que, sob todos os aspectos, também é insustentável.
Porém, em se tratando de uma provável vitória de Donald Trump, esses problemas são apenas acessórios. O que mais incomoda o mercado financeiro, sem dúvidas, é a tendência do isolacionismo por parte de um governo republicano. Em seu mandato anterior, Trump valeu-se de uma série de medidas protecionistas contra a Europa e a China - algo que, em alguns casos, chegou a ser classificado como “guerra comercial”. Acontece que o Homem Laranja Mau queria fortalecer o dólar, enquanto moeda de curso mundial. E, se levarmos em conta uma recente declaração feita pelo possível candidato, a respeito de uma conversa sobre relações comerciais com o presidente francês, Emmanuel Macron, é possível que as coisas sigam mesmo por esse rumo.
É evidente que o maior protecionismo contra a China prejudicaria o gigante asiático. Mas isso também acabaria tendo impacto em vários outros países que são muito dependentes de suas exportações para a China - como o Brasil. Por isso, os mercados financeiros já estão precificando esse risco, fazendo diminuir o valor de mercado de empresas que são fortemente dependentes da China. De maneira geral, contudo, a expectativa é de que todo o mercado financeiro apresente mais volatilidade, no caso de uma vitória de Donald Trump - e isso nas bolsas de valores do mundo todo.
Chega a ser curioso analisarmos essa percepção que, supostamente, representa o consenso do mercado financeiro. Não é possível dizer se esses agentes financeiros têm uma mentalidade pró-democratas, ou se essa análise é puramente técnica. A verdade é que, como nos mostra a história recente dos Estados Unidos, podemos encontrar vários desses problemas - e tantos outros - no atual governo de Joe Biden. Mais endividamento, mais emissão de dinheiro, mais instabilidade econômica, bem como uma crônica instabilidade geopolítica: tudo isso compõe a herança do governo do Creepy Joe para o próximo mandatário.
Porém, por algum motivo, os agentes financeiros fazem crer que, com Donald Trump na presidência, aí sim a coisa vai ficar feia. Pense, por exemplo, que Christine Lagarde, a bruxa globalista do Banco Central Europeu, afirmou que o retorno de Trump à Casa Branca representaria um risco para os mercados europeus. Particularmente, eu acho que o maior risco para os mercados europeus, na atualidade, é a própria União Europeia…
De qualquer forma, podemos tirar algumas conclusões libertárias a respeito dessa história. Em primeiro lugar, fica claro, para todos, o problema que é o estado: estamos falando de uma eleição presidencial que tem o potencial de mexer com a economia do mundo inteiro. A depender de quem seja o idoso a ocupar a Casa Branca a partir do ano que vem, as coisas poderão ir para um lado ou para outro. Conforme a previsão de alguns alarmistas, podemos ter desde uma grande crise econômica, uma guerra civil e até mesmo uma terceira guerra mundial.
E nós podemos encontrar essas alegações, inclusive, na própria campanha presidencial. Donald Trump coloca grande parte da culpa pelos atuais conflitos que castigam vários povos ao redor do mundo na péssima gestão política de Joe Biden. Outros afirmam, por sua vez, que o jeito agressivo de Trump arrastará os Estados Unidos e seus aliados para um conflito em escala mundial. Não devemos nos perguntar, em primeiro lugar, qual das duas análises está certa. A grande pergunta a ser feita é: porque um único homem deveria ter tanto poder assim?
Mas veja que esse caso representa, também, um problema para os próprios norte-americanos. De uma forma ou de outra, e mandato após mandato, o governo de Washington tem se tornado cada vez mais forte, se intrometendo cada vez mais na vida dos cidadãos. É incrível imaginar como o país que nasceu como a terra da liberdade, com o menor e mais limitado estado do mundo, pôde se tornar, ao cabo de 200 anos, não apenas o governo mais forte do planeta - mas também, na prática, a polícia mundial. Não satisfeito em azucrinar a vida de seus cidadãos, o governo norte-americano também interfere na vida de todos os habitantes do planeta, inclusive de formas indiretas - como através da questão econômica.
A verdade é que eleições são, sempre, a legitimação de algo que, por natureza, é ilegítimo - ou seja, o próprio estado. É certo que vale a pena votar por algo menos pior, se isso representar uma violação menor às nossas liberdades individuais - e Donald Trump, sem dúvidas, parece ser um problema menor do que Joe Biden. O que não muda, contudo, é o fato de que o estado não só não resolve nenhum problema - ele é a causa de todos os principais problemas que, hoje, afligem a humanidade. Guerras, miséria, instabilidade econômica: procure direitinho, e você sempre vai achar a ação do estado por trás disso tudo.
Sem dúvidas, as eleições deste ano nos Estados Unidos representarão uma grande mudança de paradigma - que vai abranger desde o futuro da China, até mesmo a solução ou agravamento de vários dos atuais conflitos ao redor do globo. Também os mercados financeiros, sempre apreensivos, tendem a ser impactados pelos resultados - assim como eles já sofrem impactos apenas pelas expectativas. Seja apenas um exagero de pessimismo, seja porque os tempos em que vivemos são únicos na história humana, a verdade é que os próximos meses nos EUA têm tudo para definir o rumo dos próximos anos da sociedade humana.
Porém, a única coisa que não vai mudar, independente do resultado dessas eleições, é aquela verdade que nós, libertários, conhecemos tão bem: a paz mundial e a plena estabilidade econômica só virão com o libertarianismo. Políticos são apenas o entrave, a pedra no caminho desse que é o nosso maior objetivo. Respeito à propriedade privada e à livre iniciativa, sem coerção estatal, sem ameaças, sem protecionismo: apenas uma sociedade humana que siga esses princípios é que poderá suplantar todos os seus maiores desafios.
https://valor.globo.com/financas/noticia/2024/01/28/vitoria-de-trump-nos-eua-entra-no-radar-do-mercado-que-teme-volatilidade-e-fiscal-pior.ghtml