Desmascarando a primeira onda do movimento feminista

Muitas jovens de esquerda, enganadas pelo feminismo, acreditam que se trata de um movimento bem-sucedido e benevolente que conquistou direitos femininos como o voto e o direito ao trabalho. Mas tudo isso não passa de um mito.

O ano de 1848 marcou o início da primeira onda do movimento feminista, num período de grandes mudanças sociais e políticas em vários países ocidentais, como a Inglaterra e a França. Havia já um novo tipo de sociedade impactada tanta pelos avanços da Revolução Industrial como a Revolução Francesa, e foi nesse cenário que pensadores iriam exigir novos direitos às mulheres. As duas principais pautas do nascente movimento feminista foram o direito ao voto e o ingresso da mulher no mercado de trabalho. Coincidentemente ou não, nesse mesmo período Karl Marx e Friedrich Engels iriam lançar seu Manifesto Comunista, e começaria um longo período de defesa de ideais coletivistas e socialistas em vários países ocidentais, que impactariam drasticamente o século XX.

Dois nomes importantes foram Elizabeth Stanton e Lucretia Mott, e esse movimento teve início após as duas mulheres terem sido barradas em um evento que exigia o fim da escravidão, em 1840. Foi durante a reunião em defesa do abolicionismo que as duas viram nesse momento uma oportunidade de exigir novos direitos às mulheres, mas os abolicionistas negaram num primeiro momento. Posteriormente, o pastor da igreja Wesleyana acolheu as ideias das duas mulheres após elas defenderem suas motivações com base na Bíblia: de que a mulher foi originada da costela de Adão. A partir daí, as duas feministas passariam a panfletar pela região e reunir-se frequentemente na igreja para falar sobre a causa. É interessante saber que esse movimento nascente tinha pouco apoio, inclusive de mulheres que não estavam engajadas ou interessadas nas pautas feminista.

Anos mais tarde, Elizabeth e Lucretia organizariam um movimento maior com cerca de 300 pessoas, composto de homens e mulheres, que seria chamado de Convenção de Seneca Falls. Nessa convenção, as fundadoras fizeram uma pesquisa com os participantes, para saber se eles aprovavam o direito de as mulheres poderem ter o direito ao voto político. No entanto, o resultado foi surpreendente para as militantes feministas, já que a maior parte das mulheres reprovou as pautas. Elas apenas desejavam possuir direitos civis básicos, e não votar, pois este direito estava associado a deveres extenuantes. Apesar desse resultado negativo para Elizabeth e Lucretia, elas não desistiram da luta pela inserção da mulher no mercado de trabalho e do direito ao voto.

Havia sérios motivos de muitas mulheres daquele período não desejarem todos os direitos exigidos pelas chefes do nascente movimento feminista. A historiadora e política brasileira, Ana Campagnolo, que se especializou no estudo do movimento feminista, e baseando-se no tratado anti-sufrágio de Grace Goodwin, escreveu:

“Em 1912, nesta publicação anti-sufrágio, nós vemos que as mulheres estavam isentas da responsabilidade política e legal, como servir ao Exército ou se sentar em júris. Muitas responsabilidades pesadas como prover a família, pagar dívidas e ir para a cadeia por crimes menores são poupadas do sexo feminino. Se uma esposa se envolve em negócios ilegais, a lei responsabiliza o marido, e não ela.
Essas são apenas algumas das razões, citadas por Grace em seu livro, pelas quais as mulheres da época se negavam a aderir ao movimento sufragista. Inclusive, na Inglaterra, existia um partido político anti-sufrágio”.

Como podemos perceber, as defensoras do feminismo atual escondem que em todos os países que aceitavam o voto como participação política, apenas os homens que servissem no exército tinham esse direito. Afinal, poder votar implicaria em escolher alguém que teria o poder de te convocar para uma eventual guerra, não era um privilégio masculino. Isso justificava, e com razão, a restrição do voto apenas aos homens, pois nada é dado a alguém sem uma contrapartida.

Outra pauta que a primeira onda do feminismo esteve focado era na questão do mercado de trabalho. As feministas argumentam hoje que as mulheres só podem trabalhar graças às lutas das feministas, mas a noção de trabalho é algo que mudou ao longo da história. Precisamos contextualizar isso, pois muitos empregos modernos que são fáceis para as mulheres não existiam ao longo de toda a história da humanidade. Durante longos períodos o trabalho sempre foi considerado sofrimento, um tipo de punição que as pessoas devem fazer por pura necessidade de sobrevivência, e elas eram mal pagas devido à baixa produtividade econômica.

Essa visão sobre o trabalho é constatada pelo historiador de guerra, o israelense Martin L. Van Creveld no livro “Sexo privilegiado: O fim do mito da fragilidade feminina”. Ele escreveu:

“No que diz respeito ao trabalho, as mulheres sempre desfrutaram de mais privilégios que os homens. A raiz dessa diferença de tratamento está nas características biológicas de ambos os sexos. Enquanto o trabalho era considerado um fardo, as mulheres, como os homens, faziam o possível para evitá-lo, mas, ao contrário dos homens, contavam com a ajuda dos parentes do sexo masculino”.

O autor nos lembra que os homens nunca tiveram escolhas de evitar o trabalho e todo seu fardo e dificuldade. Apesar de os pensadores socialistas e as feministas gritarem aos quatros quantos sobre a importância do direito de ter emprego, como se o trabalho fosse um privilégio conquistado, Martin explica uma realidade diferente:

“Compreensivelmente, a maioria das mulheres compelidas a trabalhar por circunstâncias econômicas continua a encarar o trabalho como um fardo. Como as estatísticas mostram, as mulheres costumam aproveitar a primeira oportunidade para fugir do trabalho”.

A mudança na percepção do trabalho começou a mudar a partir do século XVI, quando ele passa a ser associado ao serviço religioso, como se fosse uma oferta para Deus. Os Estados Unidos, por exemplo, colonizado em boa parte por protestantes, foi o local onde o trabalho foi visto de forma positiva e uma nova cultura foi criada.

Mas foi um novo mundo tecnológico, fruto da revolução industrial com o desenvolvimento do capitalismo e das empresas, que permitiu novos modelos de empregos mais produtivos e menos arriscados para as mulheres ocuparem. Por isso, com essa possibilidade de escolher o emprego e com essa nova visão positiva do ato de trabalhar que as feministas começaram a propagandear o trabalho feminino era grande conquista das feministas.
Com relação ao trabalho intelectual que é um tipo de trabalho antigo na história, ele era restrito a um pequeno grupo no passado, e não havia um grande interesse da classe média por esse tipo de trabalho. No entanto, havia algumas possibilidades de estudos escolares e universitários para homens e mulheres de classes baixas. Como exemplo, temos intelectuais como Machado de Assis, Francisco de Paula Brito e o Papa São Pio X, que viveram entre os séculos XIX e XX, vindo de famílias pobres. E não foram só homens, já que Santa Edith Stein foi uma mulher intelectual que chegou a se tornar doutora em Filosofia no começo do século XX.

A demanda real pelo trabalho feminino só foi aumentar significativamente a partir da Primeira Guerra Mundial, quando centenas de milhares de homens de vários países estavam em pleno conflito. Isso obrigou muitas mulheres a terem que trabalhar em fábricas para que bens básicos e até armamentos pudessem ser produzidos. Isso, no entanto, não foi algo definitivo para muitas mulheres já que aquelas que tinham maridos com boa condição financeira escolheram voltar para seus trabalhos domésticos e cuidar da família. De acordo com a historiadora Ana Campagnolo, cerca de 3 milhões de mulheres decidiram sair de seus trabalhos pesados nas fábricas após a guerra e voltar para o trabalho no lar.

A recente visão romantizada do trabalho, que isso apenas é um grande benefício para as mulheres, pode facilmente ser contestada como algo unicamente benéfico. Grande parte dos trabalhos são braçais e exigem força física, além de representarem um risco de vida ao trabalhador, sendo eles ocupados por homens, muitos dos quais já morreram no trabalho. Esses trabalhos arriscados dificilmente seriam tão bem feito por mulheres como são por homens fortes e treinados, além de serem insalubres, uma realidade que as feministas esquecem de pontuar. Elas, em sua hipocrisia, apenas querem mais mulheres como presidentes, senadores, deputadas, médicas, CEOs de empresas e cargos de chefia em geral, mas se esquecem que o mercado de trabalho vai muito além disso. Além do fato de que o igualitarismo defendido pelos socialistas, se seguido à risca, implicaria que em todos os empregos deveriam ser ocupados igualmente por mulheres e homens, até os mais insalubres e arriscados. Isso nos mostra que ser homem não é necessariamente uma vantagem ou qualquer tipo de privilégio, mas exige responsabilidades e riscos, e muitas vezes uma vida difícil e de penúria.

Outros exemplos como as guerras, trabalhos perigosos em minas, construção civil, trabalhos em navios, todos são ocupados por homens que arriscam sua vida, e ver isso como privilégio beira a insanidade. Portanto, é natural que as mulheres estejam protegidas no lar com a família ou ocupando trabalhos que não representem, de fato, grandes riscos à vida delas. Como as mulheres geram filhos, ou seja, elas criam a vida e aumentam a população, seus maridos e parceiros sempre tentaram mantê-las em maior segurança.

É interessante destacar sobre alguns aspectos da primeira onda do movimento feminista que as atuais feministas omitem ou não tem conhecimento. As lideranças dos movimentos, as mais radicais, defendiam pautas que eram contrárias às vontades da maioria das mulheres. Exemplos são os já citados direito ao voto, ao trabalho e fim da instituição do casamento e monogamia. Podemos ver então que essas lideranças não estavam de fato representando a vontade geral das mulheres, que na verdade defendiam os valores femininos, muito menos agindo de forma democrática em considerar o peso da opinião majoritária.

Antes da primeira onda, havia outros intelectuais feministas radicais que defendiam mudanças radicais e revolucionárias, nos lembrando o modus operandi dos comunistas. A origem do feminismo, no movimento conhecido como protofeminismo, defendiam-se pautas anti-família, contra o casamento e a monogamia, além da liberdade sexual das mulheres. William Godwin, um homem, teria sido o primeiro feminista pelo que se tem registro e ele era contra as estruturas tradicionais da sociedade em geral, não muito diferente de Karl Marx. Ademais, muitas das principais lideranças da primeira onda do movimento feminista seguiram essa linha do protofeminismo de William Godwin. Entre elas, estava Elizabeth Stanton e suas seguidoras que começaram a contestar posições cristãs, apesar de terem sigo acolhidas apenas em um recinto cristão. Elizabeth chegou a escrever um livro chamado “Bíblia Feminista” onda ela abordava suas principais teses: defesa do divórcio; rechaço à família e à maternidade; defesa do ingresso das mulheres em todos os tipos de trabalho; rechaço ao cristianismo por não permitir mulheres como sacerdotes. Isso, novamente, não era algo que representava a maioria das mulheres na sociedade ocidental, muitas delas que eram cristãs e cuidavam de suas famílias, além de serem casadas.

Ana Campagnolo chega à conclusão que o feminismo sempre esteve muito mais ligado ao rompimento da família e a defesa da revolução sexual, do que uma luta por direitos civis ou fim da violência. A historiadora, que desmascara os discursos feministas, diz que é um grande mito a ideia de que o feminismo surgiu pela liderança de mulheres cristãs que defendiam a família, a vida e só queriam seus direitos civis assegurados. Essa primeira onda, que criticou tanto as estruturas patriarcais de sociedade, ignoraram o fato de que o casamento foi feio para proteger a mulher e seu filho financeiramente, criando uma responsabilidade ao marido. O homem deve prover e cuidar de sua família, e casado, ele passa a ter deveres legais pra com sua esposa. Além disso, graças ao advento da revolução industrial e o desenvolvimento do capitalismo, da ciência e tecnologia, que novos modelos de trabalho - com auxílio de computadores e máquinas - permitiram possibilidades de empregos para mulheres que não exigissem tanta força física. Enfim, podemos nos perguntar: será que um monte de mulher raivosa e militante fazendo protestos gerou mais ganhos para as mulheres do que a máquina de lavar roupa?

Para aprender mais sobre o feminismo e como esse movimento sempre teve raízes anticapitalistas e associações com o marxismo, deixamos aqui como recomendação de vídeo: “O feminismo é uma estratégia marxista”, disponível aqui no Visão Libertária.

Referências:

Visão Libertária - O feminismo é uma estratégia marxista:
https://www.youtube.com/watch?v=ef4I0pgKpXw&t=4s
https://plataforma.brasilparalelo.com.br/playlists/a-historia-do-feminismo/media/5f515ea77c213e40c31f3298
https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/primeira-onda-do-feminismo
Ebook da historiadora Ana Campagnolo: A História do Feminismo, Parte 4.