Quase dois anos depois do ocorrido, a verdade sobre a morte da jovem iraniana Nika Sharakami finalmente veio à tona.
O Irã é um país conhecido por sempre figurar nas listas das nações que mais violam direitos humanos no mundo, de acordo com avaliações da ONU, e com nossa própria percepção da realidade, é claro. A terra dos aiatolás divide o topo dessa infame lista com outros bastiões da liberdade mundial, como Coreia do Norte, Afeganistão e Arábia Saudita. Ou seja, trata-se de gente de fino trato, sem dúvidas. Agora, informações internas da famigerada Guarda Revolucionária Islâmica dão notícia a respeito de mais um bárbaro crime cometido pelo governo iraniano.
Trata-se do caso da adolescente Nika Sharakami, uma moça de apenas 16 anos. Esse caso é relativamente antigo, tendo ocorrido em 2022, durante os fortes protestos populares realizados contra o regime dos aiatolás. Essas manifestações foram motivadas por outra mulher iraniana, Mahsa Amini, assassinada pela polícia dos bons costumes do governo. Na época dos protestos, as imagens da brutalidade da ditadura iraniana contra os manifestantes rodaram o mundo.
Pois bem, no dia 20 de setembro daquele ano, Nika desapareceu, logo após participar de protestos na capital Teerã. No mesmo dia, suas contas nas redes sociais foram apagadas. Aí, já se imaginava que o governo do Irã tinha responsabilidade nessa história. Dez dias depois, sua família foi informada de que o corpo da adolescente havia sido encontrado caído em uma calçada. Segundo o que foi “apurado”, entre muitas aspas, pelas autoridades iranianas, a menina havia caído de uma grande altura. Na verdade, o governo trabalhou com a hipótese de que ela se atirou de um prédio. Uma baita história para boi dormir, você não acha?
Contudo, essa versão dita “oficial” permaneceu como sendo a explicação para a morte da garota. Até que, poucos dias atrás, foi vazado um relatório, classificado como “altamente confidencial”, feito pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Esse grupo de celerados é responsável por impor a lei islâmica ao país, a qual, basicamente, lhes dá a possibilidade de cometer toda sorte de crimes bárbaros. De acordo com esse relatório, três homens, pertencentes à citada guarda, prenderam Nika durante as manifestações, para logo depois abusar sexualmente da garota e, em seguida, tiraram sua vida. No documento, constam os nomes dos assassinos e de seus superiores, responsáveis por acobertar esse crime terrível.
Não entraremos em detalhes a respeito de tudo o que foi feito com a pobre adolescente, a notícia da BBC, veículo de mídia responsável por divulgar o relatório está na descrição, para quem quiser pormenores do caso. O que diremos, em resumo, é que, uma vez jogada numa van pelos criminosos, Nika resistiu bravamente, lutando contra seus covardes agressores. Essa resistência motivou uma reação brutal por parte dos agentes estatais, algo que acabou ceifando sua vida ali mesmo.
É desnecessário dizer o que absurdo é esse caso todo. Tudo está errado, passando pela própria lei injusta do Irã, chegando, obviamente, à questão da ética libertária. É claro que estamos diante de um evidente caso de violação da autopropriedade de alguém, que se torna ainda mais grave pela covardia envolvida. Por outro lado, supostamente, a lei do Irã não deveria permitir esse tipo de situação, uma vez que, por lá, ainda há algum vestígio de devido processo legal. Porém, o que vemos acontecer na nação islâmica é a relativização dos direitos dos indivíduos sejam naturais sejam aqueles escritos no papel estatal, por parte das forças do estado.
De forma geral, uma lei islâmica imposta à força sobre a população é injusta e antiética como qualquer outra lei estatal. Contudo, no Irã, há um agravante: o atual estado que governa o país representa um grave retrocesso social em relação à situação anterior desta nação. Por mais que a lei estatal seja fundamentalmente antiética, por ser coercitiva, ela tende a ser vista como legítima pelo povo, caso reflita o que a população entende como sendo o correto. Ou seja, quanto mais próxima da lei natural as regras estatais estão, mais facilmente elas são aceitas pela sociedade.
Acontece que, antes da Revolução Islâmica, em 1979, as mulheres tinham uma vida muito mais livre por lá. Muito semelhante ao que se observava, na mesma época, no Ocidente. Elas podiam se vestir como quisessem, podiam frequentar escolas mistas, ir a boates e discotecas, enfim, viver como mulheres deveriam viver, em qualquer pedaço de terra civilizado. Com a chegada dos aiatolás ao poder, contudo, esse cenário foi drasticamente modificado. Aquilo que boa parte da população tolerava e considerava aceitável, passou a ser tratado como crime grave, por parte do novo governo.
De lá para cá, a situação no Irã se tornou ainda mais crítica, no que se refere aos direitos humanos. E não estamos falando de casos isolados. Veja que a irmã mais velha de Nika, Aida Sharakami, de 22 anos, foi presa no mês de abril, por não “cobrir seus cabelos em público”. Ou seja: mais um absurdo, por parte do governo islâmico. Contudo, temos visto, no sentido oposto, uma resistência crescente, por parte da população iraniana, aos crimes cometidos pelo seu governo.
É que, conforme a lei estatal vai se distanciando da percepção popular do que é a lei natural, menos legítima ela parece aos olhos do povo. Dessa forma, os cidadãos se sentem compelidos a protestar contra essas leis, ainda que, em muitos casos, o estado possa agir violentamente para conter esses protestos. E a verdade é que, provavelmente, o governo iraniano já percebeu o tamanho de sua fragilidade. Isso pode explicar, por exemplo, o conflito do país contra Israel, que pode ser, no fim das contas, apenas uma cortina de fumaça interna, para encobrir a decadência do regime dos aiatolás.
Agora, se acha que esse é um caso isolado, e que se refere apenas a uma teocracia islâmica congelada no tempo, sinto lhe informar, mas a coisa não é bem assim. A verdade é que, em qualquer parte do mundo, o estado é um ente mafioso que, supostamente, garante os direitos dos indivíduos, mas que, na prática, apenas parasita a sociedade. Isso se observa em qualquer país, em maior ou menor grau, naturalmente. Todo governo é uma máfia organizada para ultrajar os direitos fundamentais e para espoliar o povo. A diferença é que alguns governos conseguem disfarçar isso melhor que outros.
Não precisamos ir tão longe assim para compreender esse fato: veja que o Brasil, hoje, é governado por gente que admira e apoia o regime criminoso dos aiatolás. Por sinal, o presidente Lula defendeu a entrada do Irã no grupo dos BRICS, não obstante todas as violações de direitos humanos observadas no país islâmico. E o pior é que esse tipo de gente afirma, aqui no Brasil, serem defensores dos direitos humanos e das minorias! É desnecessário dizer, também, que o governo Lula está ao lado do Irã, no citado conflito contra Israel.
Mas o problema brasileiro vai além do apoio a ditaduras que violam direitos humanos: também o Brasil sofre com ações ditatoriais por parte de membros do alto escalão do governo. Veja, por exemplo, que inúmeras pessoas vêm sendo punidas, nos últimos anos, por crimes que sequer estão tipificados na lei brasileira, como, por exemplo, fake news. Estamos falando de casos em que indivíduos foram presos, tiveram seus recursos confiscados e, em casos extremos, se exilaram em outros países. Tudo isso sem julgamento! Tem como afirmar que, num país com essas condições, os direitos humanos são plenamente respeitados?
Acontece que o estado, ao contrário do que muitos acreditam, não existe para pacificar a sociedade. Ele existe para dividir a sociedade, para criar classes diferentes e níveis sociais distintos. Isso porque um país dividido é um país mais facilmente governável com punho de ferro. As diferentes classes criadas possuem mais ou menos direitos, sendo tratadas dessa forma. Em teocracias islâmicas, os infiéis e as mulheres estão num patamar muito inferior aos demais cidadãos. Em países comunistas, os membros do partido desfrutam de uma vida muito mais privilegiada que os meros mortais. E no Brasil? Bem, se for um amigo do rei, terá as benesses do estado; agora, se o presidente não for com a sua cara, sentirá todo o rigor da lei.
O caso de Nika Sharakami escancara uma verdade que qualquer pessoa honesta já percebeu, há muito tempo: o governo teocrático do Irã é uma máfia criminosa que persegue seus cidadãos, supostamente, por questões religiosas. A verdade, porém, é que o regime dos aiatolás está cada vez mais fraco; e, por isso, recorre, cada vez mais, a meios violentos, para tentar conter a mudança de ares que toma o Irã. É bem provável, portanto, que a ditadura iraniana esteja com seus dias contados, enquanto menos legítimo o governo parece aos cidadãos. Quando o fim do governo dos aiatolás chegar, então Nika e todas as outras vítimas dessa ditadura criminosa serão finalmente vingadas pelo curso da história.
https://expresso.pt/internacional/2022-12-09-ONU-poe-Coreia-do-Norte-Siria-Irao-Afeganistao-e-Arabia-Saudita-na-lista-dos-maiores-violadores-de-direitos-humanos-9df44ecf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Morte_de_Mahsa_Amini
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63038853
https://www.bbc.com/news/world-middle-east-68849736
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2023/08/24/lula-defende-inclusao-do-ira-no-brics-e-diz-que-cupula-foi-civilizatoria-ao-fortalecer-sul-global.htm