28 Set. 2023
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Experimento LIBERTÁRIO termina em TRAGÉDIA nos Estados Unidos, mas será isso mesmo?

Um curioso caso noticiado nos Estados Unidos tem ganhado bastante repercussão nos últimos dias. Trata-se de, supostamente, um “experimento libertário” - com muitas aspas, - que teve como palco a cidade de Grafton, no estado de New Hampshire - perto da fronteira com o Canadá. A história em questão foi retratada pelo jornalista Matthew Hongoltz-Hetling, em seu livro “Um libertário encontra um urso”. E você já vai entender onde entra o urso nessa história.

A coisa toda se iniciou quase 20 anos atrás, em 2004, com a chegada de centenas de libertários a Grafton, vindos de várias cidades de New Hampshire. Esses indivíduos teriam sido atraídos para a cidade por seu histórico libertário. Grafton sempre foi famosa por suas constantes rebeliões contra as autoridades. Conta-se, inclusive, que a cidade queria se separar do restante dos Estados Unidos poucos anos após a independência das Treze Colônias. Grafton também é o lar de John Babiarz, um conhecido político libertário que se candidatou ao governo do estado. Alguns afirmam, também, que o fato de a cidade aplicar um imposto sobre propriedades muito baixo ajudou na decisão migratória dos libertários.

O fato é que cerca de 200 amantes da liberdade humana mudaram-se para a cidade - uma quantidade que representava 20% da população local. Então, o tal “experimento” começou a ser observado na prática. Naquele oásis ideológico em território americano, esse punhado de libertários lançaram o “Projeto Cidade Livre” - um protótipo de Ancapistão, funcionando dentro de uma cidade. Os visionários convenceram a população local a promover um corte de 30% no orçamento municipal, com uma subsequente redução na atuação estatal na cidade. Outras poucas medidas foram também sugeridas, na sequência.

O que se observou na prática, porém, foi uma total deterioração dos serviços públicos nos anos seguintes, sem que alguma alternativa privada viável fosse estabelecida. As estradas da cidade estavam esburacadas, a criminalidade aumentou, já que a polícia dispunha de menos recursos para agir, e até mesmo a biblioteca pública teve que reduzir suas atividades. Por fim, em 2012, os ursos chegaram.

Os animais, que sempre viveram nas florestas ao redor da cidade, passaram a ser atraídos por resíduos deixados na floresta pelos moradores. Alguns libertários, segundo consta, passaram a alimentar os animais em seu próprio quintal. O resultado foi um considerável aumento de ataques de ursos a seres humanos, numa proporção nunca antes vista.

Em 2016, o experimento finalmente foi encerrado, muitos libertários abandonaram Grafton, e o saldo final foi bastante negativo. Por isso, de acordo com o autor do livro, a cidade é um claro exemplo de como a mistura entre “desregulamentação, redução de impostos e ideias libertárias” resulta em uma combinação potencialmente perigosa.

Bem, isso prova que o libertarianismo falhou, certo? Na verdade, não. Se você é um libertário, provavelmente você percebeu que não há muito de libertarianismo nessa história. Por mais que muitos acreditem que a filosofia libertária se resume a “imposto é roubo”, existe muito mais coisa a ser levada em conta. Portanto, cortar o orçamento estatal não significa adotar um sistema libertário, de forma completa.

Afinal de contas, o estado continuou existindo, e interferindo na vida das pessoas na cidade. A Constituição dos Estados Unidos continuou vigendo no lugar, e as autoridades estatais mantinham seu poder coercitivo sobre a população - inclusive sobre os libertários. Na verdade, o experimento acabou se tornando, em muitos aspectos, mais uma “feira hippie”, com tendas espalhadas pela floresta, do que algo realmente sério.

O libertarianismo é uma base filosófica que prega o respeito à propriedade privada e o princípio da não-agressão. Nesse sentido, a ação estatal é completamente inconciliável com esses padrões éticos - afinal de contas, o estado é, por definição, coercitivo. E a verdade é que, não obstante o fiasco apresentado por Hongoltz-Hetling como “experimento libertário”, a história nos mostra inúmeros exemplos de como a liberdade faz as sociedades progredirem.

Porém, esse caso específico pode ajudar a refutar uma ideia equivocada com a qual muitos libertários acabam concordando. Não é possível criar um Ancapistão, ou seja, um pedaço de terra livre da ação estatal, dentro dos estados que hoje existem. Não é assim que criaremos uma sociedade libertária - ou seja, estabelecendo um local onde as pessoas vão agir dentro da ética do libertarianismo. Ainda que esse lugar seja estabelecido, e que o estado deixe as pessoas em paz, num primeiro momento, assim que a coisa começar a funcionar, as forças estatais entrarão em ação.

Não, o libertarianismo não será implementado através do exemplo de uma “cidade ancap” próspera e feliz. O estado nunca vai permitir que isso aconteça. O Ancapistão também não vai surgir por meio do uso da força, porque violência gera apenas mais violência - e nós, libertários, somos essencialmente pacíficos. O libertarianismo será adotado pelas pessoas, isso sim, pela obsolescência do estado, que vai se tornar cada vez mais desnecessário e, principalmente, ineficiente. Mesmo sem saber, mesmo sem querer, as pessoas tenderão a se tornar libertárias, na medida em que o próprio estado começar a colapsar.

Além disso, podemos usar o caso da cidade de Grafton para argumentar que o libertarianismo não é um “experimento social” - algo que, por outro lado, o socialismo é e sempre foi. E, agora, alguém poderá aproveitar a deixa para acusar: “Veja como o libertarianismo é igualzinho ao socialismo! Quando ele dá errado, logo vem um libertário para afirmar que aquilo não era o libertarianismo de verdade!”.

Muita calma, meu jovem! Não confunda alhos com bugalhos. O que aconteceu em Grafton realmente não foi libertarianismo. E sim, é verdade que muitos esquerdistas afirmam, diante de um fracasso socialista, que aquilo “nunca foi socialismo”. Mas eles estão errados: o socialismo, quando implementado, sempre falha.

Na verdade, governos socialistas só conseguem se manter ainda por algum tempo, como no caso da URSS e da China, quando não é socialismo de verdade. Nesses casos, foi certo grau de liberdade de mercado e adoção informal de um sistema de preços baseado no que era praticado no Ocidente, que permitiu a sobrevivência do regime por tantas décadas. Já em países onde o socialismo é implementado de verdade, como o Camboja e a Coreia do Norte, a coisa desaba muito rapidamente.

Ainda assim, vale a pena dizer que nós, libertários, não prometemos milagres, um nirvana, nem um paraíso na Terra. Nós apenas prometemos a liberdade. Isso não significa maior ou menor esforço, mais alegria ou menos tristeza, gente mais rica ou mais pobre. A vida fora dos grilhões não é necessariamente fácil, mas ela é - isso sim - livre. Muitos erram ao esperar que o libertarianismo traga todas as respostas para a humanidade. Na verdade, uma sociedade livre terá ainda mais perguntas. Não propomos a resposta para tudo - isso quem faz é o estado. Nós propomos, apenas, uma forma livre de dar respostas a essas perguntas naturais.

Mas nós também não podemos deixar de lado uma questão muito importante envolvendo o caso da pequena, mas hoje não mais tão pacata, cidade de Grafton. Afinal de contas, por que motivos uma história que já é velha, sobre um experimento que fracassou dez anos atrás, está repercutindo na mídia brasileira? Bem, podemos resumir essa resposta a um nome: Javier Milei.

Com o surpreendente resultado das primárias na Argentina, o termo “libertarianismo” passou a ser conhecido por mais pessoas, na medida em que mais gente se interessava pelo curioso cabeludo argentino. Agora, com a possibilidade real de que Milei realmente vença as eleições, e se torne presidente do país, tem muita gente roendo as unhas. Imagine só, o quanto as ideias da liberdade poderão ser espalhadas pelo Brasil se, aqui do lado, houver um governo liderado por um libertário!

O que sobrou para a grande mídia, muito conhecida por passar pano para os constantes fracassos do socialismo, foi requentar uma história velha que, supostamente, reflete os “males do libertarianismo”. Como bem vimos, a coisa não é bem assim - mas para a extrema-imprensa brasileira, isso não importa. O importante mesmo é atacar as ideias da liberdade, antes que seja tarde demais, e a hegemonia da esquerda na América Latina seja comprometida de forma irreversível.

Em resumo, não houve nenhum tipo de experimento libertário em Grafton, nos Estados Unidos. A coisa toda se assemelha mais a um festival de Woodstock, mas sem o rock - eventualmente, sem as drogas, - e com muito menos gente. Por algum motivo, é claro, a mídia brasileira vê sentido em trazer essa história novamente à tona, na medida em que cresce o interesse do público pelo libertarianismo. O fato é que, tanto nós como eles, saberemos, em não muito tempo, como funciona uma sociedade libertária de verdade.

Referências:

https://www.vox.com/policy-and-politics/21534416/free-state-project-new-hampshire-libertarians-matthew-hongoltz-hetling https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/08/31/o-experimento-libertario-que-terminou-em-tragedia-nos-eua.ghtml

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