Como esperado, Nayib Bukele obteve uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais de El Salvador. E, agora, quais serão os próximos passos do presidente bitconheiro?
As eleições presidenciais em El Salvador foram realizadas no dia 4 de fevereiro. E, como previsto, o atual presidente, Nayib Bukele, foi eleito com uma margem muito grande dos votos - 83%, de acordo com uma publicação feita pelo próprio Bukele, no X, antigo Twitter - sendo que todos os outros candidatos obtiveram percentuais pífios. A verdade é que as intenções de voto já apontavam para uma vitória acachapante de Bukele - ou seja, o resultado não foi surpresa para ninguém. Posto que o presidente salvadorenho havia sido eleito, em 2019, com 53% dos votos, fica fácil perceber o quanto o povo do pequeno país centro-americano aprovou seu primeiro mandato.
Acredita-se, inclusive, que o resultado dessas eleições tenha sepultado por completo a oposição política a Nayib Bukele. Afinal de contas, o partido do presidente, o “Novas Ideias”, conseguiu 58 cadeiras no Parlamento do país - de um total de 60 - ainda segundo Bukele; os resultados não foram plenamente apurados, no momento da produção deste vídeo. Na prática, portanto, ninguém segura o homem em El Salvador - pelo menos, no campo da política. Fica, então, a grande questão: quais serão os próximos passos do presidente reeleito?
Nayib Bukele é, de fato, uma figura bastante peculiar, e que destoa bastante daquela conhecida imagem de político latinoamericano, a que estamos acostumados. O jovem presidente, de apenas 42 anos, cuja aparência é relatada pela mídia brasileira como “sobrancelha na régua”, e que nunca usa terno ou roupas típicas de políticos, foi conhecido primeiro por nós, libertários. E isso por conta de seu apoio ao bitcoin. Esse apoio foi muito além de sua foto no perfil do Twitter, usando olhos com raio laser: Bukele transformou o bitcoin em moeda corrente no país, sendo o primeiro presidente a tomar essa iniciativa no mundo!
Porém, o que fez o presidente salvadorenho se tornar notícia internacional foi mesmo a questão do combate ao crime organizado no país. El Salvador era um país loteado por gangues extremamente violentas, que nasceram em grupos de imigrantes nos Estados Unidos, mas que retornaram à sua pátria original nos anos 1990. Os membros dessas organizações são conhecidos por cobrirem seus corpos com tatuagens enaltecendo a família criminosa a que pertencem. A ação desses grupos, dentre os quais se destacam a Mara Salvatrucha 13 e a Barrio 18, transformou El Salvador no país mais perigoso do mundo em 2015, quando o índice de homicídios atingiu a absurda marca de 106 morte para cada 100 mil habitantes.
Logo após chegar ao poder, em 2019, Nayib Bukele prometeu combater o crime organizado. Mas suas ações se tornaram mais intensas no início de 2022, quando uma onda de violência varreu o país e ceifou a vida de 87 pessoas. Em resposta, Bukele instaurou um regime de exceção, com a suspensão de direitos civis - situação que dura até hoje, e que, ao que tudo indica, será prorrogada neste novo mandato. Na sequência, o governo salvadorenho iniciou uma verdadeira guerra contra as gangues, encarcerando nada menos que 75 mil pessoas que, supostamente, tinham algum vínculo com as organizações criminosas. Esse número representa mais de 1% da população salvadorenha.
Para comportar tanta gente, Bukele ordenou a construção de uma prisão de segurança máxima - o Centro de Confinamento do Terrorismo, - com capacidade para 40 mil detentos. Como consequência direta dessas ações, a taxa de homicídios no país desabou para 7,8 mortes para cada 100 mil habitantes, em 2022. No ano seguinte, o número foi reduzido para 1,7 homicídios - uma taxa digna de um país nórdico. É bem provável, contudo, que o combate ao crime organizado continue firme no novo mandato de Bukele. Afinal de contas, seu governo estima que ainda existam 43 mil membros de gangues à solta no país.
Por conta de todo esse cenário, e mesmo restringindo direitos individuais e constitucionais, Nayib Bukele conseguiu a façanha de ter 90% da aprovação do povo salvadorenho. Raras vezes na história de países livres, um presidente conseguiu ter tal índice de endosso da opinião pública. Quem seriam os outros 10%, que desaprovam seu governo? Familiares dos bandidos presos? Enfim, como já afirmado, Bukele tinha cerca de 80% das intenções de voto, em pesquisas eleitorais realizadas nos últimos dias. Ou seja, ele provavelmente venceria até mesmo se fosse candidato a Rei de El Salvador. Quem diria que destruir o crime organizado faria com que o um político caísse nas graças do povo, não é mesmo?
Contudo, é óbvio que nem tudo são flores nessa história - e o mandato de Nayib Bukele está envolvido em muita polêmica, desde o início. O principal fator é, por óbvio, o encarceramento em massa de pessoas supostamente envolvidas com o crime. A verdade é que o próprio governo libertou cerca de 7 mil pessoas logo após sua prisão - o que representa uma taxa de erro na casa dos 10%. Só que organizações internacionais de direitos humanos afirmam que esse número é ainda maior. Estamos falando, portanto, de inocentes, privados de sua liberdade e encarcerados junto de criminosos de altíssima periculosidade.
Mas a coisa vai além. Existe a suspeita de que o governo Bukele havia negociado uma trégua com as gangues, em 2020, com a finalidade de reduzir a taxa de homicídios no país. Algum tipo de acordo havia sido selado entre as partes; porém, em algum momento, o governo Bukele não cumpriu com o combinado, o que desencadeou a crise de 2022. Alguns afirmam, inclusive, que Nayib Bukele tomou todas essas decisões já prevendo uma escalada do crime - algo que lhe daria a possibilidade de governar o país com poderes quase ditatoriais.
E é difícil afirmar que Bukele não ultrapassou as 4 linhas constitucionais de El Salvador. Em 2020, o presidente salvadorenho ordenou que o exército invadisse o Parlamento do país, forçando os congressistas a aprovarem suas medidas. Na mesma época, Bukele destituiu vários juízes da Suprema Corte, substituindo-os por nomes mais favoráveis à sua gestão. Na prática, portanto, ele tem o controle total dos 3 poderes no país. E se você quiser colocar ainda mais lenha nessa fogueira, saiba que existem suspeitas de que Bukele havia recebido dinheiro sujo do petróleo venezuelano, no início de sua carreira política.
É claro que, no caso salvadorenho, vale o debate: será que o preço que as instituições republicanas do país pagaram foi muito alto, se comparado aos benefícios da redução da violência? A verdade, contudo, é que, talvez, a popularidade de Bukele não se resuma ao combate ao crime. Tudo bem, o caso de El Salvador é uma realidade muito diferente; afinal de contas, estamos acostumados a casos como o do esquerdista López Obrador, presidente mexicano acusado de receber dinheiro do crime organizado. Ou então, como o do Brasil, governado por um partido conhecido por ter um diálogo cabuloso com uma certa organização que… bem, o jurídico proibiu comentários.
Só que, ao que tudo indica, as medidas de Bukele têm o potencial para fazer a liberdade florescer de verdade em El Salvador. A verdade é que é simplesmente impossível haver qualquer tipo de ordem social - ainda que espontânea - num país que, por conta de governos anteriores fracassados, foi tomado por organizações criminosas. Não se engane: nenhum país chega ao nível de violência que havia em El Salvador, ou que há, ainda hoje, no México, no Equador, e até mesmo no Brasil, sem a conivência de forças estatais. Analise bem esses casos, e você verá que isso é uma verdade inquestionável.
A soma de combate à criminalidade e estabilidade social, aliada a um pensamento de livre mercado e a adoção do bitcoin como moeda - algo que fez o governo salvadorenho lucrar bastante nos últimos meses - parece ser uma combinação bastante promissora. Conforme o país conseguir estabilizar sua situação de paz social - conseguida há menos de 2 anos, diga-se de passagem, - a tendência é que os investimentos estrangeiros comecem a afluir para lá. Você sabe como são as coisas: tem muito gringo tirando dinheiro do Brasil, por motivos óbvios; e esse dinheiro de risco tem que ir para algum lugar. E nada é mais capaz de enriquecer rapidamente um país, do que o investimento estrangeiro.
Talvez, esse seja realmente o grande foco de Nayib Bukele, em seu segundo mandato. E, como sempre, será fácil medir a repercussão de seu sucesso: se a grande mídia brasileira estiver esperneando muito, é porque seu governo está indo muito bem, obrigado. No fim das contas, o caso Bukele deixa uma lição para todos os defensores da liberdade que querem se aventurar na política: no caso de uma vitória (que eventualmente acontece), é preciso tomar ações rápidas e enérgicas. O sucesso de Bukele, em El Salvador, e de Milei, na Argentina, demonstram que, para lutar contra o sistema, o político tem que, no mínimo, agir muito fora da caixinha.
https://crusoe.com.br/diario/com-eleicao-em-el-salvador-bukele-deixa-oposicao-a-beira-da-extincao/
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/02/04/eleicoes-em-el-salvador-nayib-bukele-presidente-que-promoveu-encarceramento-em-massa-deve-ser-reeleito-com-mais-de-80percent-dos-votos.ghtml
https://www.opendemocracy.net/pt/bukele-pacto-informal-gangues-maras-el-salvador/
https://www.opendemocracy.net/pt/nayib-bukele-el-salvador-dinheiro-venezuelano/