O filme Wonka retrata a economia brasileira

No Brasil, a última coisa que temos é uma economia de mercado pujante. Aqui, infelizmente, foi criada uma cultura de corporativismo que apenas beneficia os amigos do rei, e é essa cultura corrupta que vemos no filme Wonka.

No filme Wonka, lançado em 2023, vemos um garoto cheio de sonhos e com uma grande ambição: construir a sua própria riqueza. O filme mostra a história anterior àquela apresentada na famosa obra cinematográfica “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, que é baseada no livro do escritor britânico Roald Dahl, intitulado “Charlie and the Chocolate Factory”. O sonhador Willy Wonka apresenta aos cidadãos de uma cidade o seu chocolate com um sabor diferente, o que surpreendeu até mesmo os homens que atuavam nesse setor há muitos anos e encantou os cidadãos. Como ele tinha chegado na grande cidade buscando seus sonhos e com pouco dinheiro no bolso, Wonka passa por sérias dificuldades para conseguir uma boa moradia. Além de sua falta de dinheiro, vemos que o jovem não tinha malícia alguma e não entendia o jogo sujo que reinava no mundo dos negócios. Assim, o filme nos mostra toda a jornada de aprendizado e amadurecimento daquele que viria a ser, mais tarde, o dono da Fantástica Fábrica de Chocolate e que conquistou o coração de muitos cinéfilos.

Já no início do filme, Wonka acaba sendo acolhido por um casal de meia idade, e eles acabam colocando-o para morar em uma espécie de hotel. O problema todo começa aí, pois se tratava de um casal mal intencionado: o longo e obscuro contrato tinha cláusulas ocultas, e o jovem Wonka passou a ser explorado pelo casal de proprietários. Ele acaba vivendo uma vida de penúria com outros habitantes do local, o que dificulta seus planos de se tornar um empresário bem-sucedido no setor de chocolates.

Os grandes empresários de chocolate da cidade eram homens que dominavam um cartel no setor; eles odiavam qualquer tipo de concorrência e faziam de tudo para sabotar quem tentasse entrar no ramo. Esses empresários passam a ser os vilões e inimigos de Wonka, sendo retratados como pessoas que fazem de tudo, até crimes violentos, para aumentar seus lucros. E esses empresários representarão na história do filme o que existe de mais invejoso e repulsivo numa pessoa.

Mas o grande acerto do filme é revelar a relação perversa que testemunhamos no mercado: o famoso capitalismo de compadrio, muito mal compreendido pela esquerda política. A verdade é que, infelizmente, é muito comum que os grandes empresários usem os políticos para manter um monopólio, além de outros benefícios que os possibilitam dominar um determinado setor no mercado. Podemos ver isso claramente na relação promíscua entre os donos da empresa Odebrecht com o Partido dos Trabalhadores. Ou a vontade do presidente da república em criar subsídios para as montadoras nacionais de carros e outros meios de transporte, dificultando a entrada de empresas estrangeiras para competir. Enfim, é o famoso Partido dos Trabalhadores que ajuda grandes empresários e prejudica o próprio trabalhador. Eis a hipocrisia.

Mas voltando ao filme, o grande sonho do jovem Wonka era construir sua loja de chocolate nas Galerias Gourmet, que era um centro bastante movimentado; um local ideal para empresas que querem ter sucesso. O grande problema é que havia nesse local certas barreiras de entrada. Um exemplo é uma cena no início do filme, onde um policial admoesta o jovem sonhador Wonka ao exigir o pagamento de uma multa. É exatamente essa regra que onerava os pequenos empreendedores que queriam abrir a sua própria loja.

Outro problema é a proibição de vender chocolates sem ter uma loja física. Ou seja, aquelas pessoas sem capital para fazer grandes investimentos não podem vender seus produtos por preços mais baixos. Por isso, Wonka precisava ficar o tempo todo esperto com a vigilância policial, caso contrário ele poderia ser multado e punido. Vemos como os maiores prejudicados nessa história toda são os consumidores, já que eles ficam privados do acesso a produtos melhores em preço e qualidade.

Mas a raiz desse problema tem a ver com o controle governamental sobre as ruas e demais locais da cidade – ou seja, a toda e qualquer propriedade pública. É por ser dono dessas ruas e, em última instância, de todos os locais de movimento na cidade, que o governo consegue inserir suas regras e leis ilegítimas e invasivas, controlando todos os aspectos da vida das pessoas. Certamente, numa sociedade livre e anarcocapitalista, onde toda e qualquer propriedade seria privada, os donos criariam suas regras e fariam certos acordos com os demais proprietários de lojas do local.

A questão aqui é que nesse modelo anarcocapitalista existiria a concorrência e a liberdade, e não apenas um dono de todas as ruas que monopoliza a criação de leis, tal qual o governo. Cada rua de uma cidade teria diferentes donos que teriam liberdade para aplicar diferentes regras, e eles agiriam de acordo com os incentivos de mercado. Quanto mais circulação de pessoas e comércio melhor. A consequência direta dessa concorrência é atrair mais comerciantes, propiciando a melhoria dos produtos e, assim, atraindo mais consumidores e até moradores, o que faria o dinheiro circular com mais frequência nessa região.

Mas esse cenário de alianças espúrias entre o governo e grandes empresas nos revela, então, como esses empresários poderosos, que já criaram seus impérios, apoiam fortemente regulações pesadas, pois, assim, eles conseguem prejudicar os novos empresários. O nome disso é captura regulatória. Trata-se de uma abordagem que defende que a regulação estatal está a serviço dos interesses das empresas dominantes, e não do interesse público. Pois é, ao contrário do que se pensa, o governo não defende os pobres dos empresários malvadões. A verdade é que os políticos vivem se unindo para beneficiar grupos de interesse que têm mais poder de barganha no congresso e, no fim, quem se ferra é sempre o pagador de impostos. Essa cultura de privilégios não beneficia apenas grandes empresários, mas empresas estatais e suas lideranças, sendo que os poderosos sindicatos sempre querem sugar algum dinheiro do trabalhador sindicalizado.

Esse cenário de capitalismo de compadrio, presente no filme Wonka, desmascara a falsa ideia de que vivemos numa sociedade regida pelo capitalismo de livre mercado. O que temos, de fato, são interesses de agentes poderosos que controlam as leis ou as compram, beneficiando apenas alguns poucos.

Mas o problema do filme é que, apesar de acertar em mostrar como o cartel prejudica e impede a livre concorrência e a inovação no mercado, ele não deixa isso totalmente explícito. Na verdade, o intuito do filme é apenas mostrar os empresários, supostamente símbolos do capitalismo, como os grandes vilões de toda a história. O aparato público, com as suas leis anti mercado e seus burocratas corruptos, não é visto como o agente causador de todo esse problema. Apesar do nítido caráter corrupto do chefe de polícia da cidade – que é persuadido pelas propinas dos chefes do cartel de chocolate –, a imagem do policial caridoso e honesto, que ajuda Wonka a pagar um quarto, cria uma visão positiva dos agentes estatais.

De toda forma, o filme consegue trazer uma visão importante do que acontece na maioria dos países do mundo – muito além da nossa querida e subdesenvolvida América Latina. Wonka revela a dificuldade do que é ser um empreendedor honesto e pobre, sem grandes quantias para investir em sua empresa, mas com grandes sonhos. E vemos como os grandes empresários não são seres caridosos e benevolentes, mas sim como estão sempre em conluio com o governo local e suas leis injustas.

Claro que isso tudo pode não ser percebido por todos aqueles que assistiram ao filme, mas, para aqueles que estão por dentro do funcionamento do jogo político, a mensagem é clara. O governo, sim, é o maior inimigo da livre iniciativa e dos pequenos empresários. A mensagem aqui é: quanto mais leis e impostos, menos empresas, produtos e serviços teremos, e mais pobre nossa sociedade será. Por isso, os países com mais liberdade econômica do mundo – como Suíça, Singapura, Estônia e Dinamarca – estão entre os locais mais prósperos e que mais atraem capital privado e novos negócios.

Mas é claro que, por outro lado, para os adeptos do socialismo e da intervenção estatal, o filme apenas será mais uma historinha dos empresários sabotando os sonhos de um jovem humilde. Não dá para esperar muito dos marxistas e progressistas, já que eles evitam criticar o estado e se recusam a ver as leis por trás dos problemas sociais. Enfim, a dica é: nem perca seu precioso tempo tentando convencer algum coleguinha de esquerda a ver o filme, pois ele irá ver a história de Wonka apenas através da ótica de luta de classes. O garoto pobre e sonhador contra os burgueses poderosos e malvadões, vendo o governo como o agente benevolente que impede os empresários de dominarem tudo.

Por fim, foi denunciando as relações promíscuas entre o governo e os grandes empresários, que o economista americano, Murray Rothbard, escreveu:
⁠”Sempre que surgir um grande empresário abraçando com entusiasmo a parceria entre governo e empresas, senhoras e senhores, é bom ficarem de olho em suas carteiras, vocês estarão prestes a ser roubados”.

Referências:

Filme: Wonka (2023)
Artigo: Wonka: um conto de empresários do mal e capitalismo de compadrio (Por Benjamin Seevers)