O Garoto quer ser REI de MARTE! (Rei de Lata)

O que acha de um quadrinho sobre crianças com poderes em um mundo destruído e feito por um brasileiro? Essa sim é uma história interessante não?

O Rei de Lata é escrito e publicado por Jefferson Ferreira com o nome de "Pandadecapa" no site Tapas.com desde 2017, com 62 capítulos publicados até a data de escrita deste artigo. A Obra trata sobre um futuro distante onde o sistema solar inteiro já foi transformado e convertido em planetas com vida sustentável, cheios de fauna e flora, com seres humanos vivendo neles e tendo seus próprios governos.
É, então, que acaba ocorrendo uma guerra entre Marte e Vênus, na qual Vênus acaba vencendo com o uso de armas químicas na superfície de Marte. Marte perdeu a guerra e se tornou quase insustentável.
Com várias pessoas morrendo e as mulheres de Marte engravidando de crianças afetadas pelo ambiente tóxico, que faz com que elas nasçam com poderes diversos, sejam físicos, biológicos ou até mentais.
Porém, as mulheres que davam a luz a essas crianças acabavam morrendo como consequência, fazendo com que se tornassem cada vez mais raras no planeta.
Com o planeta já condenado, a elite aristocrata marciana decidiu fugir do planeta e deixar seu gado... digo... o povo, na completa ruína e anarquia com os destroços de um mundo uma vez vivo.
A população comum fugiu do planeta e deixou para trás essas crianças sem experiência alguma e condenadas àquele destino junto de mercenários que ficaram em Marte para caçar essas mesmas crianças para seus próprios fins.
Vários anos após tudo isso, conhecemos o nosso protagonista, José, um garoto com grandes poderes de magnetismo e que usa uma coroa feita de lata, e que pretende se tornar "o rei do mundo", seja sozinho ou não.
A partir daqui teremos alguns spoilers dos capítulos seguintes da obra, então, para não reclamarem novamente nos comentários, deixaremos o aviso e nossa recomendação para irem ler a obra gratuitamente. Dito isso, vamos continuar..
No início do quadrinho, José se mostra autoritário mas não cruel, ao ponto de que mesmo quando alguém tenta o trair e matar, o mesmo apenas o derrota e o expulsa de seu domínio.
Embora ainda tenha essa sede louca por poder e controle, ele ainda tem sua própria moral e regras pessoais que ele segue.
É então que durante uma caçada a um grande javali, ele conhece outro personagem importante na obra, o Arthur. Um jovem que contrasta bastante com a personalidade de José.
À medida em que os dois estão caçando o mesmo porco, Arthur chega a propor que os dois cooperassem e cada um ficasse com metade dele. Mas José, em um ato egoísta, quer insistir em lutar e ficar com o porco inteiro, afirmando, como todo bom estatista, de que o porco estava em seu território, então seria dele. Tudo isso para somente no fim da batalha acabar ironicamente ficando sem nada e comer ratos no jantar.
Os governantes podem clamar o mundo inteiro como seu se quiserem, mas não podem tomar tudo, na prática, pois as pessoas irão se defender. Por isso mesmo que eles insistem tanto na ideia de desarmar a população, para diminuir seu poder e serem os únicos a poderem projetá-lo no povo.
É, então, que Arthur retorna para seu grupo e somos apresentados ao "Coração do Leste", um grupo de crianças com poderes que se reuniram em cooperação para fortalecer suas forças no lado leste de Marte.
Eles convidam José para seu grupo e o mesmo tenta ainda impor seu poder se achando o mais poderoso de lá, e rapidamente leva uma surra e se aquieta momentaneamente. Conhecemos também a personagem "Mãe", a líder protetora dos 4 "Corações" existentes no mundo, o Coração do Leste, do Oeste, do Norte e do Sul.
Esses grupos se formaram para proteger as crianças que eram vítimas dos mercenários e caçadores de recompensas que tanto as consideram como "maldições e filhos da guerra" quanto usam seus corpos para experimentos, aprimorando a si mesmos no processo ao custo de vidas inocentes, afinal elas "não escolheram nascer" e muito menos tem culpa da guerra que os próprios adultos causaram.
A trama vai avançando e vamos conhecendo mais personagens, suas histórias e aquele mundo em geral. Até nos é mostrado um pequeno grupo de crianças mais velhas que age separado dos corações, pois embora os mercenários sejam brutais, a "Mãe" não os mata ou os prende, apenas os imobiliza e os envia para longe.
Seria como um ladrão tentar matar sua família, você o imobilizar e ao invés de o prenderem apenas o tiram da sua casa. Seria cômico se não fosse trágico, não é?
O próprio José, após quase morrer nas mãos de um dos mais fortes caçadores, o derrota e está preparado para furar sua cabeça com parafusos. A Mãe o avisa por meio de um pássaro de que eles só enviariam o caçador de volta pro seu QG, o que enfurece José, que decide matar o Homem.
A Mãe tenta o impedir e avisa que se ele fizer aquilo nunca será permitido de entrar em um Coração, o que ele responde afirmando "Eu não preciso de um coração em uma guerra".
Várias crianças são capturadas no meio da batalha mas Arthur em um ato de heroísmo se sacrifica e oferece a si mesmo, uma criança com DNA extremamente forte em troca da liberdade das outras. As próprias crianças se recusam de início, mas a Mãe aceita, pensando que dando somente uma criança agora, as outras não seriam mortas.
Como no famoso dilema do trem, onde você deve escolher o trilho em que o trem deve passar, enquanto um deles contém 8 pessoas e no outro somente 1, a maioria opta pela perda menor e prefere matar somente 1 e salvar as outras 8.
A própria Mãe mais tarde, após uma grande explosão causada por outro confronto entre os caçadores e José, acaba vendo que ela estava errada nesse ponto. Assim como a tentativa da França e do Reino Unido de apaziguar a Alemanha antes da Segunda Guerra, não adianta você dar pequenas ovelhas a um Leviatã, sua fome sempre será insaciável e vai querer cada vez mais.
E nos capítulos mais recentes da obra, nós pudemos acompanhar novamente uma trajetória solitária de José, que enquanto fazia patrulhas diárias acabava relembrando sua origem e nos mostra de onde veio esse desejo de ser o rei do mundo.
Ele, quando era pequeno, foi achado por um caçador que via aquilo como um esporte, ele então aprisionou o menino e tomou sua liberdade, dizendo que o garoto só teria aquilo de volta quando ele tivesse força para a tomar dele.
Ele obriga o garoto a lutar contra filhotes de urso e força no garoto a ideia de se tornar "o rei da selva", criando essa vontade de poder no jovem, o qual, como confirmado pelo mesmo em alguns momentos, mais tarde conseguiu evoluir o suficiente e matou o velho experiente caçador, afastando até mesmo crianças que apoiaram de início seu novo regime.
A ganância pelo poder de José veio de sua vontade de lutar e tomar sua liberdade de volta, acreditando que não a teria caso não tivesse o controle que um rei absolutista possui, bem como outros burocratas da vida real, José quer o poder para satisfazer seu vazio e medo interior.
Qualquer semelhança dessa obra com a realidade, onde jovens sofridos do interior do nordeste crescem e lutam em sua sede de poder para se tornarem o rei absolulista de uma nação, não é mera coincidência.

Referências:

https://tapas.io/series/Rei-de-la/info