Os professores cabo-verdianos conseguiram um aumento salarial após pressionar o governo. Mas será que foi suficiente esse aumento?
Cabo Verde é um pequeno país insular da África ocidental, com 4033 km quadrados. Nesse país o governo também a usou a mesma tática brasileira de dar dinheiro para população durante a pandemia. E é óbvio que o preço de tudo também disparou depois disso. A essa altura, o presidente da federação cabo-verdiana dos sindicatos livres tinha feito uma reivindicação: que o governo convocasse o concelho de concertação social com o objetivo de discutir com os parceiros sociais a questão do aumento salarial. A justificativa que deram foi: o aumento exponencial dos preços dos produtos e serviços em Cabo Verde.
Já em novembro de 2021 o ministro Olavo Correia disse não haver margem orçamental para aumentos salariais.
Mais recentemente, em 2024 o sindicato dos professores exigiu a reposição do poder de compra para essa classe tão importante para o país. Com muita luta conseguiram até um aumento salarial de 16%. Mas, agora vamos aos detalhes. Deixo já bem claro que o que você var ouvir a seguir é algo que tem acontecido pelo mundo afora na história recente da humanidade: os sindicatos saem na rua fazendo reivindicações. Não têm escrúpulos em usar qualquer método imoral e depois ainda saem como vítimas. Como o povo é bem mais ignorante financeiramente do que o razoável, não percebem que estão sendo roubados. E depois, quando a conta vem, acham simplesmente que a culpa é dos governantes, sem entender o mecanismo por detrás do prejuízo que estão tendo.
Os sindicatos fizeram as exigências e o governo começou a dizer que não aceitava. Fizeram greves e nada. E o que é que alguns professores resolveram fazer? Não lançar a nota dos alunos até que as suas reivindicações fossem atendidas. Ou seja, na prática, os alunos não têm como provar que passaram de ano. Isso é mais grave para aqueles que concorrem a uma vaga no estrangeiro. Todos os anos muitos alunos cabo-verdianos ingressam em universidades no Brasil e em Portugal. Teoricamente, esses alunos teriam que repetir o ano letivo se os professores não conseguissem o seu aumento salarial. É claro que tais professores merecem uma represália. Na sequência disso, ouça o que diz uma das professoras que foram por esse caminho. Aviso logo que é algo cômico:
- "Temos os nossos direitos. Estamos num país democrático, mas em várias escolas os professores tem sofrido represálias."
Eu não sabia era que usar os outros como reféns para impor um aumento salarial era um direito democrático.
Mas a comédia não acaba aqui. Essa professora disse que nenhum aluno vai sair prejudicado porque já sabe a sua nota. Façamos de conta que o Pedro é um aluno que não tem a nota lançada. Imagina o seguinte diálogo do Pedro com um responsável de uma universidade:
Pedro – olha, o professor não lançou a nota mas sei que é 10. Pode colocar aí.
Responsável – Parabéns! Ficou em primeiro lugar.
Pedro – Ó! Como o professor é bonzinho.
Deu para rir?
Voltemos à luta sindical. Você já viu essa história alguma vez no seu país? Isso tem alguma semelhança com os estragos que fazem na França quando querem algum benefício? Não sou brasileiro, como a maioria dos que provavelmente verão este vídeo, sou de Cabo Verde. Então digam aí nos comentários se já viram algo parecido no Brasil.
A consequência dessa conquista dos professores é a seguinte: com o aumento salarial parece que podem passar a consumir mais bife e vinho bom. Uma caneta ou um computador têm poderes mágicos. Fazem com que alguém passe a comer melhor. O problema é que a magia não é suficiente para que aumente a quantidade de carne ou de vinho no mercado. Algo não está certo. Não acham?
Falando com vizinhos e conhecidos sobre o assunto, tenho a convicção que os cabo-verdianos no geral acham que o sindicato dos professores tem razão. O que ouço são respostas do tipo: "porque é que o governo não lhes dá o seu direito?" As pessoas em cabo-verde tem o seu pensamento influenciado pela ideologia marxista. Isso tem uma razão: aqui não existem partidos de direita.
Para quem acha que os sindicatos favoreceram os mais desfavorecidos, pensem no seguinte: Alguém decide comprar toda a banana que existe no mercado para queimar. Recebe dez milhões de dólares por mês para isso. Para um país pequeno como Cabo Verde, isso é uma boa quantia. Essa pessoa não consegue acabar com as bananas, mas vai diminuir muito a sua quantidade. Acho que todos esperam que o preço das bananas aumente. Da mesma forma, quando os professores tiverem o seu aumento salarial vão gastar mais. Isso quer dizer que vão tirar produtos do mercado. Embora não seja para queimar, o preço desses produtos vai aumentar da mesma maneira. Não importa o porquê de um produto ficar mais raro no mercado. Quando isso acontece, o seu preço sempre aumenta.
Quando uma pessoa põe um produto no mercado, ela vai fazer de tudo para vendê-lo. Pode até ter o monopólio e limitar a quantidade que vai para o mercado. Mas, o que põe lá é para vender. Da mesma forma, toda a moeda que um indivíduo tem na carteira é para comprar o que está no mercado. Atenção. Disse moeda. Não patrimônio. Desconsideremos a moeda que alguns guardam por anos debaixo do colchão. Consideremos apenas a moeda que entra no mercado durante um determinado período de tempo. Assim, existe uma correspondência entre o total de moedas e o total de produtos. Para simplificar, vamos supor que todo o arroz vendido no mercado durante um ano consiste em um milhão de quilos. Todo o dinheiro usado para comprar esse arroz resulta em um milhão de dólares. Dessa forma, o João, que usou 10 dólares, comprou10 kg de arroz. O Pedro, que usou 20 dólares comprou 20 kg, e assim por diante. Agora imagina que tivesse sido o João a usar o milhão de dólares sozinho. Isso quer dizer que teria sido ele que comprou todo o arroz. Imaginemos, neste caso, que no ano seguinte aparece a Joana com mais um milhão. Pode ser que todo o arroz que é possível produzir num ano é um milhão de kg. Para maximizar o lucro, vou vender metade do arroz ao João por um milhão e a outra metade à Joana.
No nosso exemplo, um dólar que antes comprava um kilo de arroz, agora passa a comprar só meio kilo. Agora perguntemos: Por que é que o José, que vende arroz, subiu o preço? É por ganância? O José vende 1000 kg de arroz por mês para comprar 20 kg de feijão, 30 ovos etc.. Ao duplicar a quantidade de moeda no mercado, também o feijão, os ovos etc. sobem de preço. É só fazer o mesmo raciocínio com a Joana comprando outras coisas com o dinheiro que recebeu. A única forma dele se safar é subir o preço do arroz.
Mas, se é assim, controlar os preços de todo e qualquer bem adiantaria de alguma coisa? Não, porque a partir do momento que a Joana, que recebe o dinheiro, comprar mais arroz e feijão, haverá menos disso para os outros consumidores comprarem. A única forma de cada um se safar seria comprar no mercado negro acima do preço tabelado. Se se aumentar o consumo de recursos escassos, o seu preço vai aumentar. Dessa forma, aumentando a quantidade de moeda no mercado provoca um aumento generalizado dos preços. Isso é inflação, como vocês brasileiros conhecem muito bem.
Disse tudo isso para mostrar que imprimir dinheiro para aumentar o salário dos professores, provocará inflação. Se não imprimir, o dinheiro será tirado de alguém por meio de impostos. Alguém que não tem um sindicato forte como os professores. Se calhar, alguém cuja atividade eleva o nível de vida de muitos, os quais sofrerão com isso.
Mas porquê isso não é ensinado nas escolas? Se o povo é soberano, um soberano tem que ser instruído. Será que há alguém que não está interessado na instrução do soberano? Creio que sim.
Na verdade há um fator que não falei aqui. Houve, antes da adoção do Euro, um acordo de paridade entre o escudo cabo-verdiano e o português. Sendo assim, um Euro equivale sempre a cento e dez escudos cabo-verdianos. É claro que esse acordo requer que o banco central cabo-verdiano não imprima moedas como quiser. Não sei como se vai resolver isso. É claro que o banco central europeu não vai ficar no prejuízo.
A liberdade consiste em fazermos as nossas escolhas e sofrermos as consequências delas. De nada me vale a liberdade se não tenho conhecimento suficiente para fazer as minhas escolhas. O povo cabo-verdiano é livre para votar mas não tem conhecimento para saber como votar. Penso que o melhor que faço é tentar me safar como um libertário. O primeiro passo para ajudar os outros é ajudar a si mesmo. Sabe aquela história que a aeromoça fala no avião? "Coloque primeiro a máscara de oxigênio em você e em seguida ajude os que estão ao seu lado". Pois é, essa é a ideia.
Governante cabo-verdiano diz não haver margem orçamental para aumento salarial
https://www.youtube.com/watch?v=TiGvE-Qbmvs&t=243s
professores cabo-verdianos não lançam as notas dos alunos
https://www.youtube.com/watch?v=_0Btf234EJE&t=17s
Cabo Verde: Governo anuncia aumento salarial de 16%, mas professores exigem mais e já
https://www.economiaemercado.co.ao/artigo/cabo-verde-governo-anuncia-aumento-salarial-de-16-mas-professores-exigem-mais-e-ja
Não entendi porque é obrigatório pôr o link da notícia e da imagem, já que disse que o texto é teórico, Os links que eu pus são de noticias e imagens quaisquer relacionadas com o tema.