Triatletas são infectados ao nadar no rio (de coliformes fecais) Sena

Atletas foram hospitalizados após nadarem no rio Sena. As olimpíadas em Paris eram para ser charmosas, mas viraram um escatológico desrespeito aos atletas.

A expectativa das Olimpíadas de Paris era algo cheio de charme e glamour. Afinal, a cidade é conhecida por seu caráter romântico e refinado. No entanto, a realidade está sendo bem diferente. Em vez de romantismo, o evento entregou lacração e vulgaridade, além de muita poluição. Em vez de refino e bom gosto, entregou um rio cheio de coliformes fecais para as provas de triatlo.
A qualidade da água já vinha sendo questionada antes do evento. Tanto que o americano Seth Rider fez uma preparação um tanto peculiar para os jogos. Ele revelou que ficava sem lavar as mãos após ir ao banheiro fazer seu número 2. Desta forma, ele se expôs controladamente à bactéria Escherichia coli, preparando seu sistema imunológico para a grande exposição bacteriana no rio Sena. Coitado de quem apertou a mão dele nesse tempo de preparação.
De qualquer forma, realmente era preciso se precaver, já que a água do rio estava longe de estar própria para banho. Tanto que, devido à contaminação da água, os treinos anteriores à competição foram adiados duas vezes, prejudicando a preparação dos atletas. A prova masculina de triatlo também teve que ser adiada por um dia.
Fora os adiamentos, que prejudicaram a todos os atletas, ainda foi pior para a belga Claire Michel, que foi hospitalizada após nadar no rio Sena. Ela já está há 4 dias no hospital, infectada com a bactéria E.coli. Após o incidente, a equipe belga decidiu não participar do triatlo misto nos jogos olímpicos. O comitê olímpico chegou a cogitar fazer biatlo em vez de triatlo, para retirar a parte da natação da prova. Obviamente, isso seria péssimo para o esporte.
Outra triatleta belga, a Marten Van Riel, ficou tão revoltada com o comitê olímpico, que fez uma crítica feroz: ‘Se a prioridade fosse a saúde dos atletas, este evento teria sido realocado há muito tempo. Somos apenas marionetes em um programa de TV. Biatlo não é triatlo. Mudar o dia da prova no meio da madrugada é desrespeitoso para os atletas e para os espectadores que passaram anos se preparando para este momento’. Que estreia para o triatlo no maior palco;
Jolien Vermeylen, também triatleta belga, disse para um canal de televisão holandês:
‘Eu bebi muita água, então saberemos amanhã se estou doente ou não. Não tem gosto de Coca-Cola ou Sprite, é claro.’
Não sei que gosto tinha a água, mas não quero nem imaginar. Vermeylen também tentou se preparar para o mergulho no rio de coliformes fecais, mas não usou a técnica peculiar do triatleta americano de não lavar as mãos. Ela somente tomou probióticos e torceu para não acontecer nada muito grave.
A organização do evento gastou cerca de 2,3 bilhões de dólares para limpar o rio, que estava há mais de um século fechado para banho. Ainda assim, todo esse dinheiro não foi suficiente para garantir a saúde dos atletas. Se você acompanha gastos públicos, não há nenhuma surpresa. Tudo com o governo é assim, fortunas são gastas e o resultado sempre é bastante questionável, afinal, boa parte da grana é geralmente extraviada para alguns espertalhões por aí.
Esse tipo de vergonha colossal sempre vai acontecer enquanto o governo for o responsável por realizar investimentos. São vários os incentivos que fazem com que o livre mercado sempre vá ser melhor que o Estado, para suprir as demandas da população de forma eficiente.
Primeiro, que o objetivo dos políticos é sempre ser reeleito nas próximas eleições. Então, a prioridade vai para obras faraônicas e pirotecnias que chamam mais a atenção do eleitor. Simplesmente suprir a demanda de forma eficiente não vale a pena para o jogo eleitoral. Desta forma, se gasta muito dinheiro para fazer algo que parece grandioso e não há real preocupação se tudo supriu realmente a demanda das pessoas.
O governo de Paris não iria fazer o simples e levar a prova para um lugar adequado. Dá muito mais votos dizer que despoluiu o rio Sena e ter o mundo todo olhando para uma prova olímpica acontecendo no cartão postal. Desta forma, o cálculo de custo benefício, tão natural na iniciativa privada, não acontece nos governos. Busca-se um resultado aparente e, como pudemos constatar, raramente se chega a resultados satisfatórios.
Outro ponto, é que as empresas sofrem muito mais com punições por seus erros do que governos. Se uma empresa faz um fiasco desses, ela é punida instantaneamente pelo mercado. Além da perda financeira imediata, ela tem sua imagem manchada, o que dói no bolso por muito tempo. Já o governo é diferente, sua receita continua igual, não importa que ele faça um bom ou mau trabalho. A única validação de satisfação do público são as eleições, que acontecem anos depois, e misturam tantas questões, que os erros da gestão ficam diluídos e mal são lembrados.
Por fim, as empresas precisam disputar com a concorrência. Se ela fizer um trabalho ruim, aparece outra empresa e ganha os seus clientes. Não só é preciso agradar ao consumidor, mas é preciso agradar mais, e num custo menor que os concorrentes. Já o Estado é diferente. Os cidadãos não podem mudar de Estado com facilidade. De tempos em tempos muda o governante, mas o Estado é o mesmo. Se ele é ineficiente e faz um trabalho ruim, azar o seu de ter nascido ali. Somos todos presos a uma instituição monopolista e ineficiente que suga nossa riqueza, quer aceitemos isso ou não.
O economista Milton Friedman fez uma análise interessante de como os seres humanos gastam dinheiro. Há 4 casos. Caso 1: Quando vamos comprar algo para a gente e com o nosso dinheiro, tentamos comprar algo bom e barato. Afinal, queremos o melhor custo-benefício. Caso 2: Quando compramos algo para os outros, com o nosso dinheiro, tendemos a gastar pouco e comprar algo não tão bom. Afinal, sentimos menos a necessidade do outro do que a nossa. Caso 3: Quando compramos algo para nós mesmos, com o dinheiro dos outros, tendemos a comprar algo bom, mas caro. Afinal, gastar dinheiro é mais fácil quando ele não é nosso. Caso 4: Este é o pior caso de todos. É quando compramos algo para os outros com um dinheiro que não é nosso. A tendência é para que se compre coisas ruins e caras. É exatamente no caso 4 que atuam os políticos. Eles usam dinheiro dos outros para investir em melhorias para outros. Não é de se surpreender que tudo do governo seja caro e ruim. Um alto valor de 2,3 bilhões de dólares na mão do governo vai que nem água para o ralo. Aliás, vai que nem água do rio Sena, bastante suja.
É bastante simbólico esse embate entre atletas e Estado. Os atletas são o ápice da eficiência humana. São as pessoas que dedicam sua vida a conseguir técnica e preparação física quase sobre-humana. São exemplos de competência, que contrastam radicalmente com a morosidade e incompetência do Estado.
Você quer saber como fazer para despoluir o rio Sena, ou qualquer rio do mundo? Muito simples, a resposta é: privatização. Os rios urbanos só são tão poluídos porque não tem dono. Um dono nunca deixaria os domicílios em volta estragarem a sua propriedade jogando esgoto sem tratamento. Ele cuidaria para que o rio estivesse sempre limpo e valorizado, para uma possível venda. Seres humanos são assim, quando é o nosso patrimônio em jogo, cuidamos de forma especial. Os políticos nunca vão se importar mais com um bem público do que um dono que se preocupa com sua propriedade.
O mesmo vale para florestas ou qualquer recurso natural. Se fosse privatizado, caso alguns donos começassem a depredar a natureza, todos os outros imóveis com recursos naturais se tornariam mais escassos, seriam valorizados. A tendência é que os imóveis com natureza preservada valorizem, incentivando seus proprietários a cuidarem dela. Não é à toa que o desmatamento e poluição é constante, independente de qual político que esteja no poder. Para nossa infelicidade, o Estado insiste que os recursos naturais pertencem a ele, já que ele se vê como o dono de todas as terras que está sob sua jurisdição.
Portanto, esperamos que fique tudo bem com os atletas, e a belga Claire Michel possa se recuperar rápido e sem sequelas. Também esperamos que acabe logo o pensamento predominante de que Estados devem organizar eventos, cuidar da natureza, ou fazer qualquer coisa importante. De certa forma, é como se todos fossemos atletas, tentando algum resultado na vida, como a prosperidade, mas tendo que nadar num rio de bosta que é o que o Estado deixa para a gente.

Referências:

https://revistaforum.com.br/esporte/2024/8/4/triatleta-belga-internada-depois-de-nadar-no-sena-equipe-da-belgica-desiste-da-prova-163325.html
https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/olimpiadas/atleta-do-triatlo-detona-qualidade-do-rio-sena-e-organizacao-da-olimpiada/
https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/olimpiadas/para-nadar-no-rio-sena-atleta-dos-eua-nao-lava-as-maos-apos-ir-ao-banheiro/