22 Out. 2023
Escritor: QuintEssência
Revisor: donda
Narrador: KoreaComK
Produtor: QuintEssência

Vereador de cidade paulista quer colocar ar-condicionado nos postes para climatizar as ruas

Essa é mais uma típica ideia de político brasileiro. O vereador Cidinho do Paraíso, da cidade de Fernandópolis, fez uma brilhante indicação para o prefeito municipal, André Pessuto. A sugestão do vereador é bastante simples: instalar aparelhos de ar-condicionado nos postes de energia elétrica do município, para reduzir as temperaturas na cidade. Cidinho também propôs a criação de uma “bolsa ar-condicionado”, para que moradores de baixa renda possam adquirir e manter o aparelho em suas casas.

A ideia é genial, não é mesmo? Na certa, você deve estar se perguntando, neste momento, o quão quente Fernandópolis deve ser, para demandar a instalação de climatizadores de ar em suas ruas. A verdade, porém, é que a cidade está longe de ser a mais quente do país, possuindo um clima classificado como “semiúmido”. A temperatura média na cidade é de 24º C e, embora o mês de outubro seja quente por lá, a temperatura média desse mês gira em torno dos 26° C. Ou seja, não é nada desesperador. Mas Cidinho parece considerar isso um clima quase infernal.

Em defesa de sua brilhante ideia, o vereador de Fernandópolis cita o caso do Catar - sim, o país que foi sede da última Copa do Mundo, - que já dispõe de itens semelhantes. De fato, o país árabe possui tanto sistemas de turbinas eólicas movidas a energia solar que refrigeram o ar, quanto aparelhos posicionados abaixo do chão, que refrescam o ar para os transeuntes. Mas esses sistemas funcionam ainda de maneira experimental, em partes da capital. O Catar, ao contrário do município paulista, é realmente quente, chegando a padecer com temperaturas na faixa dos 46° C.

Os exemplos citados por Cidinho, porém, não param por aí. Ele também cita um caso brasileiro - o de uma rua na cidade de Teresina, capital do Piauí, que também é climatizada. E isso é verdade, mas o exemplo não é muito bom. A tal rua foi instalada no início dos anos 2000, mas é um experimento isolado, não tendo sido replicado no restante da cidade desde então. Além disso, os equipamentos já estão sucateados - como sempre acontece, quando o estado está à frente de algum serviço. De qualquer forma, por se localizar no Nordeste do país, Teresina é sim uma cidade bastante quente.

Nada disso, porém, desanima o criativo vereador. Porém, logo a pergunta de um milhão de reais (ou até mais do que isso) foi levantada: quanto que essa brincadeira iria custar aos cofres municipais? E a verdade é que Cidinho não faz ideia do custo total dessa empreitada - aliás, ninguém sabe. Eles só sabem que isso vai custar muito caro. Novamente, isso não será um problema; afinal de contas, como afirma o próprio vereador, o povo de Fernandópolis, tal como o povo do Catar, é “rico, honesto e trabalhador”. Pois é.

Outras questões foram também levantadas. Por que a prefeitura simplesmente não arboriza a cidade? Isso costuma resolver o problema do calor urbano, principalmente em cidades menores - afinal de contas, estamos falando de um município com menos de 70 mil habitantes. Porém, Cidinho afirma que, no caso de Fernandópolis, nem as árvores dão conta do calor. Quanto à eficiência das árvores, eu não sei; o que eu sei de verdade é que elas não renderia uma licitação tão interessante assim…

Agora, falando sobre a tal “bolsa ar-condicionado”, que o vereador também propôs: segundo seus planos, a prefeitura compraria os equipamentos e os emprestaria para as pessoas, que usariam enquanto precisassem, e depois devolveriam. A ideia é tão brilhante, que eu imagino que só de ouvir o resumo do projeto, você já tenha pensado em uma dezena de problemas que poderiam decorrer disso, não é mesmo?

De qualquer forma, precisamos ser gentis com o vereador: combater o calor não é algo ruim, porque ele realmente pode incomodar muitas pessoas. A grande questão é: quanto vai custar, ao pagador de impostos, a solução estatal para esse problema? É certo que, a essa altura do campeonato, todos já sabemos que qualquer ideia de político é custeada pela população. Ou, como afirma uma frase atribuída a Winston Churchill: “Não há nada que o estado possa lhe dar que não tenha tirado de você antes”.

No caso de uma obra gerida pelo estado, temos, de antemão, a certeza de que ela será muito mais cara do que deveria. Afinal de contas, superfaturamento e obra pública são praticamente sinônimos. Mas, além disso, existe também a questão do custo-benefício. Como avaliar isso numa obra estatal? Como ter certeza de que comprar aparelhos de ar-condicionado e instalá-los no alto de postes de luz é a solução mais eficiente para o problema do calor numa cidade?

A verdade é que o estado não é e nunca será capaz de resolver esse problema, e nenhum outro. O estado é apenas criador de problemas. Ao tentar solucionar algo que, supostamente, causa prejuízos à população, o estado apenas entrega novos prejuízos, a serem partilhados por todos. Exceto, é claro, pelos políticos que conceberam e realizaram os projetos. Em se tratando do estado, como diria o poeta Bocage, a emenda sai sempre pior que o soneto.

Em primeiro lugar, o prejuízo começaria com a licitação para a aquisição dos itens - os aparelhos climatizadores de ar. Licitações são tipicamente superfaturadas, o que faz o estado pagar muito mais caro pelos itens adquiridos. Isso não é mero folclore, um senso comum que pode, por vezes, ser injusto com os políticos. Basta se lembrar que, no auge da pandemia, enquanto pessoas morriam por falência respiratória, políticos nordestinos gastaram R$ 48 milhões com respiradores que nunca foram entregues. Se os políticos são capazes de fazer isso com licitações que podem significar a vida ou a morte de pessoas, o que eles não farão com itens que não são tão importantes assim?

Porém, ainda que os tais aparelhos de ar-condicionado fossem comprados - a peso de ouro, - e depois instalados - a peso de diamante, - o fato é que, em pouco tempo, esse sistema estaria disfuncional. Tudo o que é gerido pelo estado termina por ser sucateado - estradas, hospitais, escolas, nada escapa dessa regra geral. É uma simples questão de incentivo: essas coisas dão muito dinheiro para os políticos quando são compradas e construídas. Sua manutenção, porém, não é tão rentável assim. Por isso, a conservação dos itens é deixada de lado; é melhor mesmo que eles acabem quebrando, porque aí teremos novas licitações!

Em resumo: todo mundo vai pagar caro, por algo que não vai trazer tanto benefício assim. Afinal de contas, quem garante que esses aparelhos vão dar conta de resolver o problema que foi apresentado pelo vereador? Existe ainda esse agravante, em medidas estatais: a viabilidade de um empreendimento nunca é levada em conta - apenas as boas intenções que supostamente motivaram sua realização. No final das contas, pode ser que a coisa toda seja um enorme desperdício de dinheiro; mas quem se importa? Os políticos não vão pagar a conta. Os contribuintes - aqueles otários - estarão lá, para serem assaltados mais uma vez!

Por outro lado, o livre mercado teria a resposta certa para esse tipo de demanda. Afinal de contas, empresas privadas já oferecem um ambiente climatizado para os seus clientes. Pense nas lojas, clínicas, escritórios, e tantos outros locais de atendimento ao público, que dispõem de aparelhos de ar-condicionado, sem qualquer cobrança para os clientes. Aliás, isso é verdade, inclusive, para ambientes maiores e mais amplos, como shoppings, e até mesmo igrejas! Pois é: mesmo templos religiosos se sujeitam às regras de mercado.

É certo que o desafio de climatizar uma rua, ao ar livre, é uma grande empreitada, que não será necessariamente viável. Mas quem falou que tudo precisa ter viabilidade econômica? A coisa é bastante simples: se essa ideia fizer sentido, do ponto de vista econômico, ela será colocada em prática, pelo mercado. Se ela não fizer sentido, paciência: isso será apenas um reflexo da vontade das pessoas, que não querem pagar mais caro, para desfrutar de um ambiente climatizado ao ar livre.

Infelizmente, não vivemos numa sociedade plenamente livre, e o Brasil está longe de ser um Ancapistão. Por isso, ainda teremos que conviver com políticos com complexo de Messias, que acreditam ser capazes de resolver questões extremamente complexas, como o clima, por meio de uma canetada. A ideia do vereador de Fernandópolis não é apenas ridícula; ela é um excelente exemplo de como funciona a cabeça de um típico político brasileiro. O importante é pensar nas ideias mais malucas, para resolver os mais variados problemas. A viabilidade econômica e o custo dessa brincadeira ficam por conta do contribuinte.

Referências:

https://pt.climate-data.org/america-do-sul/brasil/sao-paulo/fernandopolis-34980/ https://oglobo.globo.com/esportes/catar-2022/noticia/2022/12/rua-com-ar-condicionado-chama-a-atencao-no-catar-veja-como-a-sede-da-copa-tenta-driblar-o-calor.ghtml

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